No Rio Grande do Norte, 103 projetos culturais já receberam recursos do Ministério da Cultura (MinC) para financiar suas atividades por meio do edital Microprojetos Mais Cultura para o Semiárido. São trabalhos sócioculturais como grupos teatrais, corais, bandas que usam sucatas como instrumentos, oficinas de artesanato e até mesmo grupos dedicados a promover o debate entre gerações.
Nesta quinta-feira (2), os vencedores do edital e representantes do MinC se encontram para trocar experiências e discutir a melhor forma de construir de uma rede que permita a interação entre os projetos. O encontro ocorre na Pinacoteca do Estado, no Palácio da Cultura, em Natal, das 8h às 11h30.
Um exemplo de iniciativa que o prêmio do edital ajudou a manter viva é a "Turma de Caboclos do Mestre Antonio Grosso", do município de Major Sales, que se dedica em manter viva a tradição da dança de origem indígena.
"Desde os 12 anos de idade que danço Caboclo. Eu ensino o passo da dança e da história faz uns 40 anos. Quando uns vão ficando 'mais velhos' e não aguentam mais dançar no trupé dos caboclos, outros vão entrando no lugar deles", conta o mestre Antônio Grosso. Segundo ele, "essa atividade ocorre durante todo ano. A gente se junta no terreiro só pra brincar, mas o tempo mais forte é na Semana Santa e no Sábado de Aleluia", diz.
O caboclo, explica o mestre, tem base musical formada por sanfona, zabumba, triângulo e pandeiro. A base coreográfica tem de 12 a 16 brincantes dançando sempre em roda, envolvidos em passos característicos. Os dançarinos emitem um som gutural, onomatopaico de ira incessante e seus sapateados ajudam a compor a base percussiva. As roupas de trapos de panos multicoloridos com máscaras provocam um impacto plástico incomum, e a sua confecção é realizada em mutirão.
Outro exemplo semelhante vem do município de Lages. Trata-se do projeto "Música em Sucata Como Sustentabilidade Para Crianças e Adolescentes". Cícero Batista da Silva foi aluno do "Projeto Artístico Pedagógico Pau e Lata", iniciado em Alagoas em 1996. Há três anos, de aluno, Cícero passou a ser multiplicador da iniciativa e desde então coordena a iniciativa na pequena Lages, cidade que possui pouco mais de 10 mil habitantes em meio ao sertão potiguar e fica aos pés do Pico do Cabugi.
Com o dinheiro da premiação do edital, Cícero e demais integrantes do "Música em Sucata" puderam comprar baquetas, caixa amplificada, microfone, além de dar bolsa de incentivo para três integrantes do projeto. Entre as oficinas de percussão e palestras para discutir os problemas da comunidade, Cícero sonha: "quero tentar fazer com que a cultura nordestina sobreviva frente a cultura norte-americana difundida principalmente pelas grandes mídias".
Outro projeto potiguar que tem nos jovens o foco da ação é o "Teatro do Oprimido: jovens em ação por uma sociedade melhor", do município de Messias Targino, iniciativa que, segundo Pedro Cesar de Almeida, sem o prêmio do edital Microprojetos Mais Cultura jamais teria saído do papel. "Só assim foi possível comprar todo material utilizado pelo projeto, como figurino, caixa de som, DVD, câmera digital, pagamento dos professores, deslocamento, alimentação, entre outros", revela.
O Teatro do Oprimido é um método teatral desenvolvido pelo teatrólogo brasileiro Augusto Boal (1931-2009) que alia artes cênicas à ação social com o objetivo de promover transformação nas camadas mais pobres da sociedade, além de promover a democratização da cultura. Pedro César relata que os jovens moradores de Messias Targino foram assistir uma peça do Teatro do Oprimido em Campina Grande, Paraíba. "Foi daí que surgiu a idéia de formar um grupo semelhante no nosso município", explica. Os jovens se reúnem duas vezes por semana e já estão se apresentando em várias cidades da região. Por onde passam, recebem elogios.
Serviço:
Encontro Microprojetos Mais Cultura do Semiárido do RN
Quando: quinta-feira, 2 de setembro, de 8h às 11h30.
Onde: na Pinacoteca do Estado, Praça 7 de Setembro, Cidade Alta, Natal.
Informações: Djenane Arraes Moreira
SAI/MinC: (61) 2024-2181
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