quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Higiene mental e lixo

Walter Medeiros*
waltermedeiros@supercabo.com.br

Algumas décadas atrás, quando se falava em grandes preocupações os efeitos mais comentados no ambiente de saúde era a tal da estafa, uma espécie de esgotamento que depois ganhou o nome mais colonizado de estresse. Da mesma forma que certas reflexões e meditações recebiam a definição de higiene mental. Era algo saudável e interessante, que findou sendo um dos componentes da essência do que se convencionou chamar depois de qualidade de vida. Tive a sorte de acompanhar o desenvolvimento desses conceitos como pessoa e como repórter, o que me leva a certas viagens bastante agradáveis.

Nessas minhas caminhadas matinais findei observando recentemente que as folhas de eucalipto espalhadas pela passarela da avenida - Estrada de Ponta Negra – trazem lembrança daquele aroma da infância na Serra do Sertão. Do outro lado, pelo calçadão, sente-se o cheiro das folhas do cajueiro, que reforça a memória atenta e saudosa daqueles tempos das serras de Mata Grande (cidade onde morei no alto sertão de Alagoas). Em seguida uma jovem estudante passava com um novo perfume, em busca do futuro; e a caminhada segue, ensolarada, tão próximo desse belo mar de Natal.

Nessas lembranças da serra vêm plantas, flores, pássaros, colméias; e nenhuma embalagem, vasilhame ou papel poluindo a paisagem. Nem na rua encontrava-se nada além de alguma propaganda azul com o desenho e dizeres das vassouras de Jânio Quadros ou um papel de lançamento do novo produto da época – Alka-Seltzer.

Em caminhada anterior observei a mulher que leva comida e água para dezenas de gatos que vivem à margem do calçadão. Hoje o que me chamou atenção foi uma verdadeira cortina de lixo exposta por todo o percurso que, junto, totalizará, com certeza, mais de uma tonelada. São latas de bebidas alcoólicas e refrigerantes, garrafas variadas, caixas de suco e leite, plásticos, sacolas, jornais, revistas, panfletos, santinhos, dejetos e muitos outros objetos que compõem a sujeira. O pior é que por todo o percurso existem depósitos à disposição. Mas até motoristas e passageiros mal educados jogam lixo pela avenida afora.

Sabemos que os logradouros públicos são passíveis de receber lixo em qualquer lugar do mundo, fiscalizado ou não, punido ou não, mas é preciso o mínimo de preocupação com essa coleta não tão convencional quanto a residencial e a simples varrição. Mesmo que não dê para sonhar em transformar esses recantos de Natal numa Acari - a cidade mais limpa do Brasil -, não custa fazer o mínimo necessário ao bem-estar de todos. Até porque Natal já ganhou a fama de bonita e precisa aproveitar essas dádivas da natureza, tanto para seus filhos como para os visitantes, que são muitos, inclusive caminhando naquela calçadão.

*Jornalista

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