quarta-feira, 25 de maio de 2011

Natal sente saudade do poeta Luís Carlos Guimarães


Por Hermano Morais*
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Sempre tive uma grande admiração pelo poeta Luís Carlos Guimarães, que tive o privilégio de conhecer quando ele estava perto da morte, embora ninguém suspeitasse dessa proximidade. Somente ele, quando um dia escreveu o que chamou de “Ode mínima ao infarto do miocárdio”:

Se o enfarte vier,
atravessarei
a ponte de safena?

No dia 23 de maio de 2001, o escritor Nei Leandro de Castro escreveu um artigo homenageando o poeta morto dois dias antes, contendo uma breve biografia e dez poesias de Luís Carlos Guimarães. Aliás, o autor das “Pelejas de Ojuara” já escreveu bastante sobre o amigo falecido. Alguns textos com histórias deliciosas dos seus diálogos e momentos de boemia.

Nei também se preocupou em perpetuar a lembrança do amigo e me sugeriu, durante meu segundo mandato como vereador de Natal, um Projeto de Lei no qual Luís Carlos Guimarães fosse eternizado, emprestando o seu nome a uma rua. Confesso que tive algumas dificuldades para encontrar um local que representasse bem a homenagem. Busquei várias opções de ruas, mas entendi que o poeta poderia receber uma homenagem ainda maior. Então, optei por um lugar poético: a Praça da Jangada, símbolo da Praia de Areia Preta e próximo ao saudoso e boêmio Iara Bar. Finalmente, antes de deixar a Câmara Municipal do Natal no ano passado, pude apresentar o projeto que, aprovado, se transformou na Lei nº 6.198, garantindo ao poeta essa justa homenagem.

Sinto que aquele ambiente foi inspirado por ele, por sua poesia, para que outros mais também possam se inspirar. Aliás, já consultei o artista e escritor Dorian Gray e sei que poderemos contar com sua contribuição para a elaboração de um ambiente mais bonito naquela bela praça. As mãos mágicas de Dorian e seu amor fraterno por Luís Carlos Guimarães certamente deixarão aquele recanto ainda mais aconchegante.

Vale registrar que propomos, quando o poeta ainda nos ofertava o prazer de sua companhia nesse plano, o reconhecimento da sua cidadania natalense, tendo em vista que, mesmo sendo nascido em Currais Novos, Luís Carlos Guimarães adotou Natal como sua cidade de coração.

Pude também, logo após o seu falecimento, ser autor do projeto “Câmara Cultural Luís Carlos Guimarães”. O projeto foi aprovado à unanimidade e instalado sob a gestão dos jornalistas Leonardo Sodré e Eduardo Alexandre Garcia, que montaram uma galeria de arte e realizaram inúmeras atividades culturais, como saraus, apresentações musicais e cinema em palco instalado no pátio da CMN. Além disso, existia uma sala com o nome do poeta contendo obras e vários objetos pessoais do seu cotidiano. Uma espécie de museu de lembranças de Luís Carlos.

A atividade foi ampliada pelos mesmos jornalistas com a edição de um programa na TV Câmara em alusão ao projeto que leva o nome de Luís Carlos Guimarães. Infelizmente, o Projeto Câmara Cultural Luís Carlos Guimarães foi interrompido para dar lugar expansão física daquela Casa de Leis. O programa de TV permaneceu no ar até o ano passado.

O artigo de Nei Leandro publicado na Tribuna do Norte no último dia 20 – alusivo aos dez anos de partida do poeta – me cobrando a merecida homenagem foi importante. Tenho certeza que ele, embora morando atualmente no Rio de Janeiro, estará presente na solenidade de reinauguração da Praça da Jangada Poeta Luís Carlos Guimarães, juntamente com dona Leda Guimarães, eterna musa do poeta, e seus familiares, amigos e admiradores. Para tanto, aguardamos apenas as providências de competência da Prefeitura de Natal.

Luís Carlos Guimarães vivia e bebia o amor. Por isso, encerro esse artigo com sua poesia bela e sensual, como se nesses dez anos ele estivesse por perto brindando seus amigos com seus textos irreparáveis:

Toma meu amor
bebe até a última gota o vinho das estrelas
e olha para a noite desenrolada no céu
e vem e vem e deixa que eu assista à mutação dos teus olhos
na cor de mel ouro antigo chá e telha vã
enquanto não chega a hora de amar
desdobrar todos os minutos como pedras preciosas de um colar
quando minha boca passeia o teu corpo assustado
e meus dedos ciciam aos pêlos úmidos do teu sexo
e eu ávido cavalo te cavalgo montaria do meu amor.

*Hermano Morais é deputado estadual pelo PMDB, advogado e bancário concursado da Caixa Econômica Federal.

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