domingo, 27 de novembro de 2011

Cabrito, o Tertuliano fescinista

Por Leonardo Sodré
Editor

Tertuliano Aires, a versão mais séria do personagem “Cabrito” é exatamente o que se espera dele. O sósia de Luís da Câmara Cascudo é a irreverência em pessoa. Ganha a vida na informalidade e se considera o maior pirata da arte de Natal. “Sou um Capitão Gancho da minha obra e das boas obras dos outros e o maior vendedor de MP3 do estado”, gabou-se. Entrevistei-o, numa segunda-feira, começo de noite na calçada do Bar Azulão, no Tirol. Chegou pontualmente às 18h30, como havia combinado e foi logo dizendo:

- Pergunte o que quiser que eu conto tudo!

- Pois então comece feito um matuto...

“Nasci em 29 de abril de 1956 em Mossoró”, informou. “Ninguém é perfeito e assim como a mãe de Lula também nasci analfabeto. Mas sou civilizado e moro em Natal desde 1968”, sorriu enquanto tomava um gole de água de coco porque já não bebe álcool há algum tempo. “Comecei com a banda Alcatéia Maldita, um grupo ‘underground’ nos anos 1970, com Raul Cruz, Nagério e outros companheiros”, revelou.

“O danado é que antes eu tinha conhecido uma mulher que ficou grávida e grudada em mim até hoje e eu tive que casar”, reclamou. “Então, para poder sobreviver junto com a minha inesperada família, tive que ir ser vendedor de remédio (não coloque droga! Advertiu ao entrevistador) e depois de peças para automóveis, como representante pelo interior do Rio Grande do Norte, me afastando por um tempo da música”, contou, enquanto dava uma olhada para um traseiro feminino que passava pela calçada do Bar Azulão, onde nos instalamos para a entrevista. Como a distração estava demorando e ele quase quebrando o pino do pescoço, gritei:

- Êi, Cabrito, vamos continuar?

- Oh! Meu irmão me desculpe. Onde eu estava mesmo?

Não resisti:

- Nas nuvens, ou melhor, nas bundas...

“Continuo casado com Diana até hoje”, remendou. “Será um grande defeito?” Perguntou sorrindo. “Bom, o fato é que voltei para a música depois que os meninos cresceram e criei o personagem Cabrito, o cantor pornofônico. Continuo trabalhando com o personagem que está fazendo um sucesso danado e já tem até fã clube, mas também atuo como diretor de palco. Aliás, faço parte da equipe do MPBeco”, ressaltou.

O compositor

“Já fiz várias músicas que foram gravadas por Khrystal, Geraldo Carvalho, Cida Lobo, Carlinhos Bens e outros, e continuo produzindo freneticamente porque minha mente irrequieta não para de criar. Sou um criador desde que fui criado”, enfatizou.

O personagem 

“Cabrito não sou eu. Criei o personagem a partir de um fato. Vou contar: Eu trabalhava como representante comercial quando numa cidade do estado ouvi uma fita de sacanagem onde um cantor fazia paródias de músicas de Roberto Carlos, Altemar Dutra, Nelson Gonçalves e outros inserindo sacanagens nas letras. Na mesma hora me deu vontade de fazer a mesma coisa porque eu sabia que teria mais capacidade do que aquele cantor fulera” relatou. “Mas, conversando com o maestro Franklin Novais ele me convenceu que seria pouco criativo e até perigoso porque eu poderia ser processado. Na mesma hora me deu a deixa:

- Por que você não compõe música de sacanagem?”

“Então, comecei a compor as pornofônicas e a Franklin Novais a fazer os arranjos”, lembrou. “Uma das primeiras foi sobre o Carnatal, onde a turma faz sexo prá danado. Então compus uma música onde eu dizia que ia plastificar meu pau para ir ao Carnatal”, risos, inclusive dos que assistiam a entrevista. “Rapaz, essa música fez o maior sucesso. Foi tocada em tudo que era canto da cidade”, completou.

Cabrito lembrou que em novembro deverá ser lançado o 1º DVD da Cabritagem. Trata-se de um show gravado na Boate Senzala, na estrada de Ponta Negra. “Não imaginei tanto sucesso e estamos preparando muita sacanagem para o CD deste ano”, informou. “Já vendi mais de 10 mil CDs de Cabrito e os fãs crescem de forma assustadora em todo o Brasil”, exagerou. “Trata-se de uma euforia total. A turma copia e bota os títulos mais escrotos do mundo. Outro dia passei num bar e o cara estava tocando meu CD, cuja capa estava escrita ‘O pior da sacanagem’. Aí eu pensei, assim é sacanagem mesmo”, sorriu.

“Minha mulher não gosto e não escuta, mas respeito o meu trabalho”, disse. “Faço muitos shows. Já vendi numa noite 250 CDs durante um show. Um recorde para Natal pode acreditar”, rogou. “Eu também sou dono da Banda Balalaika Brega Band, para músicas românticas e, claro, bregas. Já participei duas vezes do Projeto Seis e Meia, com casa lotada. Na última vez fiz o show antes de Vando e também recebi várias calcinhas no palco e uma cueca enorme que certo editor de livros, apelidado de Ivan Júnior, jogou do camarote”, gargalhou.

- Ou foi você Leo? Você estava com ele...

- Eu juro que não fui eu.

- Quando você jura...

 Amor e Ódio

“A minhas pornofônicas geram uma relação de amor e ódio. Alguns me amam e outros me detestam”, aquiesceu. “Mas, tudo é apenas uma brincadeira para divertir, nada eu inventei, é tudo conversa do dia a dia”, explicou, lembrando que iria fazer um grande show no lançamento do DVD. “O local será escolhido pelo meu produtor”, disse orgulhoso.

- E o Beco da Lama?

- O Beco da Lama é o meu escritório, minha universidade e minha referência. Foi de lá que me lancei para o mundo, concluiu.


Entrevista publicada na revista O Botequeiro, número 11

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