domingo, 27 de novembro de 2011

QUE VENHA O PARQUE

 Públio José – jornalista
(publiojose@gmail.com)

                        Sem sombra de dúvidas, Natal é uma cidade sem nenhum apego às suas praças, aos seus logradouros públicos. E isso começa pelas autoridades, pelos dirigentes. Enquanto se vê pelo mundo afora (Brasil inclusive...), o cuidado, a atenção, o zelo, o carinho da comunidade por suas praças, por seus recantos verdes, comportamento praticado até pelas autoridades alhures, por aqui a situação é muito diferente. Em outras cidades poetas, músicos, artistas plásticos – isso para não citar as pessoas comuns, anônimas – fazem da praça um recanto especial. Lugar de leitura, de estudo, de devaneio... Seara natural para oxigenação do talento, da prática intelectual, da criação artística. Enxergamos isso em Natal? Não. E por quê? Ora, como existir uma cultura em torno da praça se a praça não existe! Por conseqüência, também não fecunda no nosso meio populacional o hábito de frequentá-la, de vivê-la.
                        Em Natal, praça que ainda sobrevive (embora devidamente abandonada pelos poderes públicos), assim o consegue em razão da atenção de parte da comunidade que a circunda. Os exemplos são inúmeros. Pessoas anônimas que se unem em mutirão para proceder à limpeza, a poda, a aguação; empresas que as adotam como forma de praticar cidadania e de devolver à sociedade um pouco do que auferem a título de lucro... Episódios marcantes que evidenciam uma nesga de espaço que a praça ainda ocupa no coração de alguns natalenses, ao mesmo tempo em que desnudam por inteiro o pouco caso das autoridades em relação ao tema. Mas nem tudo está perdido. Dias atrás, testemunhei ao vivo a luta de vários abnegados em defesa de um pequeno pedaço do espaço verde pertencente ao bairro em que residem. Área que escapou por um triz de ser desmatada através da ação mortal da serra elétrica.
                        Refiro-me ao Parque de Capim Macio – assim batizado pela comunidade que carinhosamente o adotou, embora de parque mesmo tenha muito pouco. A luta pela sua preservação teve início há três anos quando a Prefeitura decidiu desmatar a área para construção de uma lagoa de captação, parte do projeto de saneamento do bairro. Os protestos – liderados por um grupo formado pelos moradores Joanisa Prates, Mirna Pacheco, Telma Romão, Yuno Silva, Gustavo Brandt e outros – tinham por objetivo mostrar aos técnicos municipais o dano ambiental que a obra acarretaria. Pelo corte indiscriminado de espécimes remanescentes da Mata Atlântica e também pelo fato de suprimir à comunidade a sua única área verde. Profissionalmente assessorado, o grupo apontava também a inadequação do terreno para utilização como lagoa de captação em razão da pouca profundidade do solo naquela região.
                        Outro elemento importante a questionar a obra estava no fato do lastro rochoso no local ficar muito próximo da superfície, o que desqualificava a obra como realimentadora do lençol freático. Para defender seu ponto de vista o grupo viveu momentos dramáticos, como o episódio em que, tendo diante de si o resfolegar de máquinas pesadas, vários deles tiveram de se agarrar às árvores – para não vê-las tombar sob a ação da serra elétrica. Hoje, através de mutirões, feijoadas e apresentações artísticas, o grupo quer resistir. E estabelecer uma cultura, um hábito de freqüência para que o parque se firme perante autoridades e moradores. O objetivo é fazê-lo existir, para não ter que enfrentar a Prefeitura novamente – cujo planejamento apresenta-se, ainda, desconectado do querer da comunidade. Viremos essa página. Alvíssaras ao parque! E longa aposentadoria à serra elétrica...      

Nenhum comentário:

Postar um comentário