Jornalista
paulo.correia@r7.com
Não sou um telespectador assíduo de novelas. Nunca fui. Mas confesso que de uns tempos para cá tenho acompanhado a nova do horário das 21h, Avenida Brasil. O ritmo da história, em formato de thriller de suspense, me anima e deixa a novela com um ritmo muito bom.
O autor, João Emanuel Carneiro, já tinha feito o mesmo com a sua obra anterior, A Favorita, de 2008, e mostrou que soube reinventar muito bem os enredos de mocinhos e bandidos e injetar um novo componente nessas historias (a maioria já muito batida) que foi o foco dúbio e nebuloso dos seus personagens principais, incluindo ai a mocinha da novela.
Em Avenida Brasil, a personagem da atriz Débora Falabella, a Nina, é o exemplo maior dessa inovação. Com ações que apresentadas ao grande público noveleiro (notadamente muito conservador) há uns dez anos, seria muito mal recebidas, mas que atualmente passam quase que despercebidas e que são normais para um confronto de vingança com a vilã da história, a Carminha, interpretada pela atriz Adriana Esteves.
Na novela, outro ponto de destaque é o núcleo de moradores da periferia. Na história de João Emanuel Carneiro, os personagens circulam pelo movimentado bairro fictício do Divino. Inspirado em localidades da Zona Norte do Rio de Janeiro, com todos os seus problemas e soluções tomadas pelos inúmeros moradores, o Divino é o centro onde nasceu o personagem Tufão, interpretado pelo ator Murilo Benício, que dali saiu para o mundo do futebol internacional. Nas ruas do bairro também circulam a chamada e exaltada classe C. Personagens que de uns dez anos para cá, estão saindo da pobreza e conseguindo, com muito trabalho, adentrar no mundo do consumismo dividido em parcelas. A cabeleireira Monalisa é o personagem exemplar dessa ascensão popular.
Esses dias, o autor João Emanuel Carneiro deu uma boa entrevista para as páginas amarelas da revista Veja, contando sobre o sucesso da novela (que já bate na casa dos 40 pontos de audiência no IBOPE) e sobre o cansaço do formato antigo de se fazer novelas. Depois de publicada a entrevista, alguns autores da rede Globo soltaram declarações veladas sobre João Emanuel e a sua obra. Eu li a entrevista e não achei nada de mais o que ele comentou. As declarações partem de setores que já estavam acostumados e acomodados com o sucesso de suas novelas, algumas repetitivas e muito fantasiosas. Esse foi o grande problema de João Emanuel Carneiro: ele afetou os interesses de um grupinho e mostrou que para se fazer boas novelas não é necessário ir para Dubai, Londres ou Marrocos.
Vida longa ao autor e as suas historias recheadas de tramas policiais, reviravoltas, bom humor na dose certa e diálogos afiados.
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