segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Inaugurar esgoto

MARCUS ARANHA
Escritor

Tratando da saúde em São Paulo , confinado num quarto de hospital sou obrigado a ver televisão inclusive a Propaganda Eleitoral Gratuita.
A mesmice dos candidatos é entediante. Todos prometem que, se eleitos, irão proporcionar a população brasileira educação, segurança e saúde.
Essa coisa virou quase um bordão. Candidato a presidente, senador, governador, deputado federal e deputado estadual, todos, vão tornar o país uma ilha de excelência onde educação, segurança e saúde vão superar os níveis do primeiro mundo.
E ao falar em saúde todos prometem construir novos hospitais, ambulatórios, serviços de atendimento de emergência, mais leitos de UTI e uma infinidade de unidades de atendimento médico.
Não vi nenhum candidato prometer obras de saneamento embora ele seja uma peça primordial na elevação e manutenção dos níveis de saúde.
Os dados da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico divulgados em agosto pelo IBGE mostram que o Brasil tem 34,8 milhões de pessoas que vivem sem coleta de esgoto. Essa situação é bem mais precária no norte e nordeste que são as regiões mais deficientes nesse ponto de vista.
As conseqüências da falta de saneamento são preocupantes. A Organização Mundial de Saúde estipula que cada real gasto em saneamento provoca uma economia de quatro reais em despesas com saúde.
É que o saneamento básico é essencial em termos de qualidade de vida; a ausência dele provoca poluição dos recursos hídricos com prejuízos consideráveis a saúde da população, notadamente o aumento da mortalidade infantil.
Nos serviços médicos que atendem crianças, os casos de gastrenterites e diarréias são incontáveis e muitos desses casos terminam com o óbito da criança.
Na Paraíba, mais de sessenta por cento da população não é servida com rede de esgoto.
Na capital do Estado é comum ver, em bairros mais pobres e em favelas, a água já servida correndo entre casas e barracos, e por fim tomando o leito das ruas. No meio disso crianças seminuas e descalças brincando o dia inteiro.
A contaminação dessas águas é evidente e as doenças que podem provocar nas crianças que nelas se divertem são inúmeras.
Apesar disso, com a receita de impostos e contribuições fiscais crescendo em todos os níveis de governo nada se faz para instalar saneamento básico para a população.
Os políticos e autoridades governamentais continuam alheios aos problemas da falta de saneamento básico.
Há quem diga que construir esgotos não dá votos. E os mais jocosos insistem em descrever com gozação a inauguração de um trecho de saneamento: uma tampa de esgoto de ferro e em redor dela o prefeito, alguns auxiliares diretos e populares curiosos. Uma fala rápida da autoridade maior e pronto. Nada de banda de música, fogos de artifício ou festejos semelhante
Tai... Realmente o ato político mais sem futuro que se conhece é inaugurar esgoto.


Publicado no CORREIO DA PARAÍBA de 5 de setembro de 2010

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