Leonardo Sodré
Editor
O cirurgião plástico Leonardo Spencer, coordenador médico do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), não esconde a emoção quando fala sobre a tentativa de salvar um menino de um ano e oito meses que teve 90% do corpo queimado no último dia 08, no município de Bodó, na região Seridó do Rio Grande do Norte. Foi a primeira vez que o helicóptero do Batalhão Aéreo da Polícia Militar foi acionado.
“A criança queimou-se dentro de uma coivara, uma espécie de buraco que as pessoas do interior costumam usar para queimar lixo”, disse Spencer. “Ela estava brincando com um irmão de seis anos, que não conseguiu tirar o irmãozinho de dentro do buraco”, completou médico.
Ele relata que uma ambulância da cidade levou a criança até Currais Novos e no hospital da cidade não havia médicos. “Nesse ponto, ligaram para o SAMU Metropolitano e falaram comigo. Pelo relato calculei que 90% do corpo do menino havia sido queimado”, relatou o coordenador médico.
“Enquanto falava com as pessoas que estavam dando assistência ao garotinho a ligação caiu. Senti que era casa de resgate aéreo e acionei o Batalhão Aéreo. Nesse ponto a ambulância seguia em direção a Natal e pelo telefone combinei de encontrá-los em Santa Cruz, onde pousaríamos no Estádio Iberezão”, explicou Spencer.
Santa Cruz
O médico relata que quando examinou a criança, ainda em Santa Cruz, precisou estabelecer e entubar. “O garotinho tinha muitas queimaduras de 3º grau que precisavam ser estabilizadas”, comentou. “Depois disso voamos rápido, porque estávamos na iminência de enfrentar duas chuvas fortes que vinham de Natal, o que poderia inviabilizar o vôo. Pousamos no 16º Batalhão de Infantaria do Exército porque o heliponto do Hospital Walfredo Gurgel está interditado”, relatou o médico.
“Fui treinado para esse tipo de resgate. Essa foi a minha primeira vez. Fiquei muito emocionado quando vi o sofrimento daquela criancinha. Sabia dos riscos a da gravidade do caso e que suas chances eram pequenas, mas fizemos de tudo para manter a vida dele. Infelizmente ele não sobreviveu”, comoveu-se o cirurgião plástico.
Parceria
O SAMU Metropolitano mantém uma parceria com o Batalhão Aéreo da Polícia Militar. “O equipamento é utilizado para a saúde, policiamento e para vôos Vips – no caso de transporte de autoridades. É o mesmo helicóptero usado pelo Esquadrão Águia de São Paulo”, esclareceu Spencer.
Queimaduras: verdades e mitos
O cirurgião plástico Leonardo Spencer, que também é muito procurado para a realização de cirurgias estéticas, atua em casos reparadores. A reportagem aproveitou para perguntar a ele sobre os procedimentos iniciais que os leigos devem fazer diante de um queimado.
“A pele é o maior órgão do nosso corpo. Responsável pelo controle da temperatura e perda de eletrólitos, tipo sódio, potássio, cloro, etc. Ela também protege a musculatura e a vascularização, funcionando também como reserva energética por meio do tecido subcutâneo (gorduroso)”, disse o cirurgião plástico.
Ele explicou que as maiores incidências de queimados eram em crianças, acidentes de trabalho e pacientes psiquiátricos. “A maioria dos acidentes são por fogo e provocados por combustível”, explicou.
Muita água
“Quando a pessoa se deparar com um queimado não deve passar nada na queimadura, a não ser lavar com muita água. Esses mitos de colocar produtos como manteiga, por exemplo, não devem ser seguidos. Basta água e levar rapidamente a um hospital”, explicou o médico.
“Existem três tipos de queimaduras: 1º, 2º e 3º graus. As de 1º grau são as superficiais, como as de raios solares que chega à profundidade da pele. As de 2º graus superficiais entram um pouco na camada da pele e as de 2º grau profundo não atingem toda a pele, mas causam bolhas e muita dor. As de 3º grau compromete toda a pele, gordura, vasos e órgãos”, explicou.
Leonardo Spencer também informou que o profissional habilitado a tratar de queimados é o cirurgião plástico. “Lembro, também, que o único centro de atendimento de queimados no estado está localizado no Hospital Walfredo Gurgel”, avisou.
Liga Contra o Câncer e UFRN
O médico, além do seu consultório particular, onde atende os clientes de cirurgia estética, também atua na Liga Contra o Câncer no Ambulatório da UFRN de má formação crânio-facial. “Na Liga, que tem atendimento de primeiro Mundo, sem distinção, a única exigência é que o paciente seja referenciado pelo SUS e passar por um Posto de Saúde, antes de ser atendido e na UFRN a demanda é livre e gratuita todas às quartas-feiras, às 12h”, concluiu Leonardo Spencer.
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