Jornalista
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Na terça-feira (01), um fato que em outro país mereceria destaque de primeira página em todos os jornais, no Brasil recebeu poucas notas nos periódicos. A notícia foi à viagem do deputado estadual Marcelo Freixo, do Rio de Janeiro para a Europa. O motivo dessa viagem: as ameaças de morte recebidas pelo parlamentar ao longo dos últimos três anos, feitas pelos grupos milicianos que infestam o Rio e que ganham musculatura com a indiferença do poder público.
Marcelo Freixo é o deputado que, em 2008, idealizou e presidiu na Assembleia Legislativa do Rio a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Milícias, e que apresentou para a opinião pública o modus operandi desses grupos mafiosos que possuem em suas fileiras diversos membros das forças policiais.
Foi por meio do corajoso trabalho de Freixo, de sua equipe e de outras pessoas preocupadas com esse barril de pólvora, que a população do Rio de Janeiro e de todo o Brasil tomaram conhecimento das invasões de favelas, dos assassinatos de líderes comunitários, de pequenos comerciantes e de quem fosse contra o jugo desses milicianos.
De 2008 para cá muita água rolou por debaixo dessa ponte. Os nossos problemas cotidianos e a inércia total de nossos governantes deixaram que esses grupos de bandidos continuassem agindo livremente. Permitimos que o monstro afiasse ainda mais as suas garras. Deixamos que ele matasse impunemente.
As inúmeras pessoas humildes que foram eliminadas pelo poder paralelo das milícias nas favelas e periferias do Rio de Janeiro nunca tiraram o sono das autoridades constituídas. Foi necessário o sequestro e o espancamento de um grupo de jornalistas e a morte de uma juíza para os nossos burocratas acordarem dessa letargia de séculos e observarem que o perigo já se encontra na soleira da porta.
Será que com a viagem forçada do deputado estadual os nossos gestores públicos tomarão atitudes mais firmes contra essa máfia tupiniquim?
No momento em que Marcelo Freixo decola do Brasil, a radiografia dos grupos milicianos (de acordo com dados fornecidos pela Secretaria da Segurança do Rio) é a seguinte: Seis grupos (Liga da Justiça, Águia de Mirra, Milícia do policial Eduardo, Milícia do Deco, Milícia da Gardênia Azul e Milícia de Rio das Pedras) comandam a maior fatia do bolo. Fora essas, outras pequenas organizações avançam em ritmo acelerado.
Desses grupos, dois possuem os chefões presos, mais ainda bastante atuantes. São eles: Ricardo Teixeira da Cruz, o Batman (PM), Natalino Guimarães (Ex-deputado estadual) e Jerominho Guimarães (Ex-vereador), líderes da milícia Liga da Justiça. Também enjaulados e dando ordens: Eduardo Lopes Moreira (comissário de polícia) Luiz Carlos da Silva (delegado federal aposentado) e Thiago Pacheco (PM), dirigentes da milícia do policial Eduardo.
Em uma entrevista concedida pouco antes de sua viagem, o deputado Marcelo Freixo informou que outros grupos milicianos já se encontram em gestação em alguns estados. Na conversa com os jornalistas, ele citou a Bahia como um dos prováveis locais de atuação dessas máfias.
Na mesma semana da entrevista com Freixo, o jornal O Globo, edição do dia 30 de outubro, divulgou que 11 estados já possuem as suas milícias formadas por agentes públicos. Na matéria, os estados do Ceará e da Paraíba são mencionados.
E no Rio Grande do Norte, será que existem milícias impondo a sua força em nosso território?
Será?
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