terça-feira, 1 de novembro de 2011

Sai Cacete!

Mércia Carvalho
Colunista

Meu pai e minha mãe me criaram – também aos meus irmãos -, sem admitir palavrões em nossa casa. Não que eles fossem tão austeros, ou falsos moralistas. Nos ensinaram que o uso palavrão não nos levaria a lugar algum e sempre diziam que, além de falta de educação, as pessoas que assim procediam deveriam lavar a boca e a mente suja. Convém salientar que estou falando de “palavrão”.
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Assim fui criada e do mesmo jeito criei os meus filhos.
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Toda essa ladainha a respeito de palavrão e em especial a palavra cacete, que não tenho como habito usar e cujo bordão está incorporado ao dia a dia de todos como uma coisa ou pessoa chata, assim como porra também é bom exemplo, é que esta semana me senti entre a cruz e a espada quando o meu filho de apenas dez anos chegou em casa me perguntando:
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- Mãe, o que é cacete?
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Prontamente respondi.
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- Cacete é um pedaço de pau. Por quê?
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- Porque – respondeu ele - tem uma anotação do colégio na minha agenda que você tem que assinar.
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- O que aconteceu? – Perguntei-lhe antes mesmo de ler a anotação...
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- Estávamos tendo, no quarto horário, uma aula de matemática ao ar livre – contou-me – fazendo cálculo mental e eu ao demorar dar a resposta, um dos amigos ficou me empurrando e dizendo:
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- Rápido! Rápido!
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- Fiquei chateado e disse:
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- Sai cacete!
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O professor ouviu e me retirou da aula, mandou que eu fosse para a coordenação. Eu perguntei o porquê e ele repetiu:
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Para a coordenação! Disse o professor.
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Na coordenação, - continuou ele me contando - a coordenadora me mandou procurar a palavra cacete no dicionário e eu não encontrei.  Só encontrei “cassete”. E ela me disse:
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- Já pensou eu chegar à sala de aula e dizer: “Bom dia cacete!” Fiquei na coordenação até quase o final do quinto horário esperando a para ela fazer a anotação na agenda. Finalizou ele.
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Eu, já indignada “pra cacete” perguntei:
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- Você quer dizer que você perdeu o restante da aula de matemática e mais a outra aula do quinto horário por causa da palavra “cacete”?
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- Foi – respondeu ele – e quando cheguei à sala de aula, além dos meninos ficaram me perguntando o que era cacete, só deu tempo de copiar a agenda.
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Engoli em seco e só então fui ler a anotação da agenda que dizia que meu filho havia usado palavra “inapropriada” na escola.  De pronto respondi que na nossa casa não se usa palavrões, e que, se ele estava usando palavras inapropriadas havia aprendido lá, com os alunos da escola onde ela é a coordenadora.
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Não estou aqui apenas defendendo a minha cria. Se a palavra cacete, no sentido em que por ele foi utilizada, e como foi interpretada, vai de encontro às regras impostas pela escola, que ele fosse alertado, orientado e conseguintemente educado para que não mais a repetisse.
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A meu ver, educar vai muito além de ensinar a ler e escrever. Para educar você tem que ter o coração e a mente abertos para vida e para o mundo. Olhar e enxergar. Falar com propriedade, sabendo o que está dizendo. Ensinar, aprendendo. E, sobretudo, amar o que faz para poder fazer bem feito.
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Pelo visto existem muitas bocas e mentes sujas a serem lavadas e educadas para que possam transmitir algum ensinamento.

Cacete
s.m. Bordão mais grosso numa da
 extremidade, que em geral 
serve como arma; 
porrete: levar uma surra de cacete.
Chul. Membro viril; pênis.
Adj. Que abusa da paciência;
maçante, maçador, importuno,
 impertinente:
 conversa cacete; indivíduo cacete.

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