quinta-feira, 28 de abril de 2011
E nós, que ficamos no Meios do caminho?
Por Minervino Wanderley*
Entra governo, sai governo. Entra desgoverno, sai desgoverno. A rotina já completa 32 anos, desde que Wilma de Faria criou o Movimento de Integração e Orientação Social – Meios. A propósito, nunca entendi o significado deste “e” na sigla. Seria “Estadual”?. Pode ser.
A verdade é que o Meios começou como uma verdadeira Ong. Atendia crianças carentes aqui, idosos desencantados com a vida acolá, com poucos funcionários e sem essa dependência intestina das verbas do Governo do Estado. Coisa voltada para social.
Depois, na medida em que os governadores iam mudando, mudava também a presidente (com o perdão de d. Dilma) da Ong. Era uma questão já definida. Acredito que, a partir de então, os olhos gulosos dos políticos viram que poderiam fazer do Meios um imenso curral eleitoral. E tome gente a “trabalhar em prol dos carentes e daqueles que vivem à margem da sociedade”. Pura conversa. Papo furado!
Quando lá fui trabalhar, há cinco anos, acreditava que estava inserido em uma entidade que tinha como finalidade trazer conforto para os mais necessitados. Ledo engano. Ao longo da sua existência, o Meios contabiliza, hoje, 1.843 entre pessoas e fantasmas que recebiam salários através da “ong”.
Quando Wilma passou o governo para Iberê, e este nunca procurou ninguém do Meios, eu entendi. Percebi claramente que não havia interesse por parte de Iberê em se envolver com o órgão. Estranho. Muito estranho. Será que ele já sabia do desmantelo? Mesmo assim, ele continuou a pagar os salários até agosto, quando começou o desastre. Redução das gratificações, falta de pagamento de salários, das obrigações sociais e por aí vai.
Por fim, quando chegou o primeiro dia de 2011, o Movimento de Integração e Orientação Social não possuía mais diretoria. Nem uma pessoa sequer para nos dizer uma palavra sobre o que o futuro nos reservava. Atitude vil e covarde. Por que os líderes desapareceram? Se não tinham nada a temer, deveriam estar juntos aos demais mortais.
Passado o mês de janeiro, o outrora fervilhante de gente Meios, não passava de uma repartição fantasma, protegida por alguns abnegados que, mesmo sem salários, tocaram a nau já desgovernada.
Num gesto de necessidade mútua, os funcionários procuraram o Sindicato, Ministério Público, Promotoria, políticos, o que viesse pela frente. Todos correndo atrás do pão para alimentar a família.
Tenho certeza de que aqueles que estiveram à frente do Meios não passaram nem passam por isso. Alguns abandonaram o navio antes do iminente naufrágio.
Mas a Justiça agiu. E rápido. Como primeira ação, nomeou um administrador provisório, Marcos Lael. O segundo passo foi conseguir o pagamento dos salários de novembro e dezembro, além do 13º para alguns que não haviam recebido. Rosalba pagou. Ela agiu certo.
O terceiro capítulo é o mais dramático: dar aviso prévio a 1.843 pessoas sem caixa para pagar os direitos trabalhistas quando chegar o momento da rescisão.
Agora, a Justiça faz uso do argumento mais lógico para que os trabalhadores recebam o que lhes é devido: a dívida não é de Iberê, nem de Wilma, nem de Garibaldi, nem de José Agripino, nem de Fernando Freire, nem de Geraldo Melo, nem de Radir Pereira, nem de Rosalba. A dívida é do GOVERNO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE.
Não há consistência em dizer: “Não tenho nada com isso”. Ora, se retirávamos os contracheques através da página http://www.rn.gov.br/, não precisa se dizer mais nada. A vinculação é cristalina.
Deve, sim, e a Justiça e o Homem vão cobrar – e receber – tenho certeza.
*Jornalista e ex-coordenador de Comunicação do falecido Meios.
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