Outro dia recebi telefonema de um político sem mandato. Nunca teve um, mas chegou perto em uma ocasião. Ele pretendia me contratar, como escritor, para lançar um livro cujo título ele já havia criado: “Os políticos mais íntegros do Rio Grande do Norte”.
Ele é uma pessoa agradável, inteligente, perspicaz, mas eternamente simplório. Devia ter tomado uns dois uísques antes de ligar para colocar seu plano de fazer um livro com tal título. Da mesma forma, fui agradável com ele para recusar sua proposta de trabalho.
Parti de duas verdades inabaláveis. A primeira, de que não existe mensuração para julgar integridade. Ou se é integro ou não. Não existe o mais ou menos íntegro nem se pode medir esse valor numa escala. A segunda a de que integridade é obrigação do ser humano, seja ele um político ou não.
Ontem me encontrei com ele na rua. Nem me lembrava mais do assunto, mas ele falou sobre o projeto que morreu antes de ser começado. E foi franco, dizendo que havia pensando muito e que eu tinha lhe aberto os olhos. Tentou dizer, do seu jeito, que realmente a integridade era uma obrigação e que isso poderia ter sido sua bandeira enquanto concorrente a mandatos por diversas vezes.
Não confessou falta de integridade. Pareceu entender, nas proximidades dos setenta anos, que o atributo poderá fazer a diferença nas disputas, talvez em um futuro longínquo, considerando que atualmente vale tudo para se olhar para o próprio umbigo com orgulho de vencedor. (LS).
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