quarta-feira, 20 de abril de 2011

Vaudeville: As crônicas da noite

Paulo Correia
Jornalista
paulo.correia@r7.com

Com certo atraso, estou terminando a leitura de Vaudeville, o livro de memórias do jornalista e empresário Ricardo Amaral, esse paulista que durante muitos anos foi considerado o Rei da Noite. A publicação, lançada em dezembro de 2010 pela editora Leya, é um verdadeiro passeio pela boêmia dos anos de 1950 a 1990. Uma viagem pelos bares, restaurantes, casas de shows e boates idealizadas pelo famoso Amaral.
No calhamaço de mais de 500 páginas, o leitor irá se deliciar, e isso posso garantir, com as conversas de bastidores, namoros, brigas e toda uma série de acontecimentos que marcaram a vida social do Brasil e do mundo nesse período. Tudo recheado com muitas fotos e com a escrita fácil do jornalista.
Em um dos capítulos, Ricardo Amaral descreve a divertida e louca trajetória do playboy Oswaldo Lara Vidigal, o Oswaldinho Vidigal. Figura lendária na cidade de São Paulo da década de 1960 e que aprontou poucas e boas com proprietários de casas de shows, entre eles o próprio autor do livro. Em uma de suas inúmeras “brincadeiras”, mandou soltar, de um helicóptero, dezenas de aspirinas na piscina do prestigiado e fechadíssimo clube Harmonia, em São Paulo. Tudo por conta de sua expulsão do local depois que apareceu fantasiado de romano em um baile de carnaval. O motivo da expulsão: por debaixo da fantasia não tinha nada. Completamente nu e mostrando o armamento para as comportadas moças da high society da cidade.
Nos 55 capítulos do livro, Amaral exibe toda a fauna que freqüentava os seus salões de festas no Brasil e em Nova York e Paris. De políticos e artistas famosos até as lindas prostitutas e gays espalhafatosos que animavam e davam brilho nesses ambientes. Todos estão lá, de Pelé a Juscelino Kubitschek, passando por Clodovil e o mafioso americano John Gotti.
E sobre o clã dos Gotti em Nova York, Ricardo Amaral também escreveu um capítulo todo especial. Foi na sua casa noturna Club A onde tudo se passou. A boate, que era uma das sensações da cidade, observou a chegada do mafioso e dos seus asseclas ao local. Uma visita indesejável e que mostrou, de forma dura, para o empresário, todo o poderio e brutalidade da máfia. Foi no Club A que Amaral levou duas surras dos homens de Gotti. Uma passagem triste que ele lembra no livro e que o fez perder o gosto pela casa noturna.
Na publicação, as fotos são um destaque a mais. Todas exibindo as festas e momentos das celebridades nos diversos estabelecimentos de Ricardo Amaral pelo mundo. Tem Marília Gabriela com Zeca Cochrane, o pai dos seus filhos, tem as deliciosas Maitê Proença e Vera Fischer no auge da sensualidade, e tem uma foto que é emblemática: um jovem Aécio Neves fotografado ao lado da então modelo Monique Evans. A cara de abobado do atual senador e eterno playboy é divertidíssima. Se Ricardo Amaral inventasse uns diálogos, como aqueles utilizados pelo jornalista Túlio Lemos em sua coluna de jornal, a conversa que sairia dali seria impagável.
 É isso. Para quem deseja ler algo leve, divertido, e que mostre todo o glamour dos velhos tempos, o livro é Vaudeville, do jornalista e empresário da noite Ricardo Amaral.
Um passeio que todo Bon vivant gostaria de fazer.

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