Jornalista
paulo.correia@r7.com
No último dia 6 de agosto o Brasil lembrou os dez anos de falecimento do escritor Jorge Amado. Dez anos sem a presença alegre do grande autor baiano e cronista fiel da população mais simples. Dez anos sem a presença do homem que amou profundamente o povo brasileiro.
Foi na noite do dia 6 de agosto de 2001, aos 88 anos, que Jorge Amado partiu para a sua última viagem. Uma partida que deixou o Brasil triste e órfão do escritor que melhor retratou as dores e alegrias da camada menos assistida do país. Um homem que soube descrever a vida dos pescadores de Salvador, dependentes do mar e dos seus saveiros para levarem alimentos para as suas casas. A tristeza de suas Lívias, que como Helenas, esperavam o regresso dos seus maridos e somente aliviavam essa pressão quando avistavam os barcos no cais.
Um homem que nas páginas dos seus livros falou sobre toda a hipocrisia, misticismo e crueldade que existiam no sertão nordestino do começo do século XX. Um homem que escreveu sobre os coronéis, as putas, os bêbados e os profetas que circulavam por esse imenso território ainda bastante deserto e sem Lei.
Jorge Amado, o escritor que deu vida a personagens fascinantes como Florípedes Guimarães, a famosa dona Flor, e Valdomiro Guimarães, o brincalhão Vadinho. Em sua obra Dona Flor e seus dois maridos, Jorge soube aglutinar muito bem o contraste entre a pequena burguesia de Salvador e o baixo meretrício local. E esse embate foi melhor descrito na cabeça de uma mulher: dona Flor. Uma jovem perdida entre o pudor e o conservadorismo da classe média e a lascívia do amado Vadinho.
Outra faceta do escritor baiano foi a denúncia social. Nas décadas de 1930 e 1940, ele lançou no mercado obras fundamentais para entender o Brasil do começo do século passado. Livros como Suor e Jubiabá exibiam esse olhar crítico sob as mazelas da sociedade urbana. Em Suor, ele descreveu o dia a dia de um cortiço encravado na ladeira do Pelourinho e os seus inúmeros moradores. No retrato pintado por Amado, a pobreza extrema dessas pessoas, as doenças e perigos que circulavam o antigo prédio e, mesmo sob todas essas adversidades, a busca pela alegria e o amor.
Em Jubiabá, o autor contou a trajetória de Antônio Balduíno, um garoto da periferia de Salvador que resolve tentar a vida nos circos mambembes que passam pela cidade. No livro lançado em 1935, observamos as apresentações de Balduíno pelo interior da Bahia, o pouco dinheiro que elas trazem e os muitos aborrecimentos na vida do jovem.
É também dessa época a obra que, para esse pobre jornalista, coloca o nome de Jorge Amado entre os grandes escritores mundiais. O livro é Capitães da Areia. Um verdadeiro tratado sobre as condições deploráveis em que vivem os meninos de rua de Salvador. Condições que não mudaram muito de 1937, quando o livro foi lançado, até hoje. Um retrato que não é apenas de Salvador, mas de todas as cidades do Brasil.
E é por esses livros citados e muitos outros publicados até a década de 1990 que Jorge Amado será sempre lembrado como o escritor que verdadeiramente amou a população brasileira. Amou sem preconceitos.
Salve Jorge!
Nenhum comentário:
Postar um comentário