Leonardo Sodré*
Naquela sexta-feira ele estava excitado, alegre. Imaginava um fim de semana divertido, cheio de opções e queria começar logo. Quase às 17 horas ligou para sua amada, e marcou para tomar a “primeira” no Bar do Frinfa, em Lagoa Nova. Queria tomar umas três de rum com Coca-Cola e depois, “a noite era uma criança”.
Caprichou nas vestimentas, passou Gumex no cocuruto – estavam dizendo que ele estava ficando parecido com o ex-presidente Itamar Franco -, colocou um perfume francês adocicado que ela tanto gostava, foi num caixa rápido pegar dinheiro e foi buscá-la.
Estava tão amoroso que até desceu do carro para abrir a porta para ela, e com isso iniciou um clima de conquista e fantasias que iria durar a noite toda. Ele antevia o quanto seria bom.
Quando chegou ao bar dirigiu-se ao proprietário exigindo uma toalha na mesa. Explicou ao carrancudo comerciante que queria uma noitada perfeita e a toalha fazia parte do “ritual”. Escolheu um local discreto e passou para os drinques e beijos numa sofreguidão de fazer inveja a qualquer adolescente.
Já perto de ir embora ela lhe deu um presente, bem embrulhado. Uma caixinha pequena, com um laço, que ele demoradamente abriu. Tratava-se de uma caixa de Viagra e ele, emocionado, agradeceu dando-lhe um demorado beijo na boca.
Já passava das 22h quando de mão dadas o casal dirigiu-se para casa. Lá, novos drinques, alguns boleros, vinho tinto seco, flores e frutas que ele, estrategicamente, havia colocado na suíte e muito amor. Tanto, que depois de algumas horas quedaram-se exauridos na cama, em sono profundo. Esqueceram, entretanto, de fechar a porta.
Durante a madrugada, quase amanhecendo, ele levantou-se para tomar água. Estava com a boca seca de beijos e rum e, mesmo trôpego, viu que um ladrão havia entrado em sua casa e levado muitas coisas, inclusive as roupas de sua amada e uma cueca vermelha que ele havia comprado especialmente para aquela sexta-feira de amor.
Depois, visitas a delegacia e todos os tramites chatos que envolvem um roubo. Da noitada, ganhou apenas os versos de Ailton Salviano:
O calor é sufocante
Com as chuvas de Outono,
É duro cair no sono
Sem estar climatizado,
Mesmo em lugar ventilado,
Não relaxe a atenção,
Tendo Vigia ou não,
É preciso estar alerta
Pois transar de porta aberta
Facilita pro ladrão.
*Jornalista e escritor
(Agosto de 2005)
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