--- Walter Medeiros*
Em fins dos anos setenta e início dos anos oitenta a organização das entidades sindicais podia ser considerada o assunto mais importante para os trabalhadores brasileiros. Os movimentos reivindicatórios surgiam e se expandiam, principalmente nos sindicatos paulistas, servindo como ponto inicial de uma série de lutas operárias no país, culminando com a convergência de interesses pela conquista de novas condições de trabalho e pela representação nacional única.
Interrompida pelo golpe militar de 1964, a experiência do Comando Geral dos Trabalhadores – CGT e demais organizações populares haviam sido tolhidas de qualquer possibilidade de atuação. Os sindicatos sofreram intervenção, milhares de dirigentes foram presos e perseguidos. Mas desde 1977, com a chamada “distensão”, renascera a idéia e a busca da organização unitária geral, depois que os empresários promoveram, naquele ano, a 1ª Conferência Nacional das Classes Produtoras – CONCLAP.
Glênio trazia sempre as informações necessárias à compreensão do estabelecimento de novos níveis de organização, acompanhando atentamente cada evento da área. Assim, analisava todos os resultados do 3º Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais, em Brasília; da Conferência Nacional das Classes Trabalhadoras – CONCLAT, realizada em agosto de 1980, em São Paulo; e a decisão dos 5.247 delegados representantes de 1.126 entidades sindicais pela escolha de uma comissão pró-Central Única dos Trabalhadores – Pro-CUT.
O movimento evoluiu e Glênio Sá era figura sempre presente e influente na articulação, que mobilizou sociedades de amigos de bairros, movimento de mulheres, movimento contra a carestia, pastoral operária, pastoral da juventude, associações de servidores públicos, de estudantes e de professores, além de partidos políticos de oposição e dos sindicatos de trabalhadores. Onde havia espaço, estava ele levando a sua palavra de luta, admirada e seguida cada vez por mais pessoas que decidiam acompanhá-lo.
Em meio a toda aquela efervescência, onde as atividades e decisões eram sempre tomadas em cima de fatos novos e muitos deles em situações nunca antes vivenciadas, surgia uma grande questão, que já apontava para a futura legalização dos partidos clandestinos. Num fim de semana mais agitado para o ritmo de trabalho que levavam, Glênio e seus camaradas receberam a visita de mais um emissário do Comitê Central do PC do B, que tratava da pressa em criar um partido operário que fosse legalizado, a fim de reunir aquelas massas esquerdistas e participar das eleições.
A sugestão era de que se chamasse PP – Partido Popular, que seria uma forma ampla de aglutinar as massas, a partir do próprio nome. Havia uma vibração natural pelas novas possibilidades de militância e pela sigla de fácil propagação: PP. Mas o esforço não deu resultado. Poucos dias depois, políticos tradicionais anteciparam-se e fundaram um partido com o mesmo nome, embora reunindo setores da elite. Chegou até a ser apelidado de “partido dos banqueiros”. Naquela mesma ocasião surgia o Partido dos Trabalhadores – PT. Em razão destes acontecimentos, as demais forças populares apressaram-se na busca de alternativas que representassem os anseios daquele momento.
*Jornalista
Nenhum comentário:
Postar um comentário