Foto: Artur Soares |
das SecultRN/FJA, recebeu
Clara de Góes e Leila Míccolis
para a 37ª comemoração do Dia
Nacional da Poesia
O Teatro de Cultura Popular foi palco do debate sobre Poesia Marginal, promovido pela Secretaria Extraordinária de Cultura do RN e Fundação José Augusto, na última sexta-feira, 14 de março. Os poetas Eduardo Alexande e Aluízio Mathias, que mobilizam essa festa desde sua primeira edição, realizada nos anos 70, em Natal, também participaram da produção do evento.
Este ano, as estrelas foram Leila Míccolis e Clara de Góes, que dividiram a mesa com João Batista Morais Neto (João da Rua), Plínio Sanderson, Aluízio Mathias e Eduardo Alexandre. O evento, que começou por volta das 18h, no Teatro de Cultura Popular, teve encerramento ao som de Artur Soares, após o espetáculo de Os Chicos.
As duas convidadas têm uma história com Natal. Clara é natural da capital potiguar, de onde foi obrigada a se transferir, aos sete anos, após o Golpe de 64. Seu pai, o educador Moacyr de Góes, fora preso acusado de subversão. Depois, mudaram-se para o Rio de Janeiro. Sua fala, na mesa, foi o depoimento de uma menina que ainda na infância estava mais para escrever do que para falar, acuada pelo constrangimento das colegas de sala que faziam chacota com seu sotaque.
“Eu saí daqui, mas insisto em fazer parte dessa cidade. O convite ao Dia da Poesia coincide exatamente quando o Golpe de 64 faz 50 anos. Toda poesia é marginal, porque está à margem da linguagem... aos sete anos, descobri que a poesia não tem sotaque. Eu resolvi ficar muda e optei por escrever. A letra circula entre a vida e a morte”, em linhas gerais, esse é um pouco do depoimento da poeta Clara de Góes, após a introdução do debate por Leila Míccolis.
Considerada um dos grandes nomes da poesia marginal, a poeta Leila Míccolis destacou a felicidade de poder voltar a Natal e celebrou o convite ao evento como um grande reencontro. “Foi aqui que eu editei meu primeiro livro, em co-autoria com Franklin Jorge, Impróprio para Menores de 18 amores”, informando que o mesmo está incluso na edição completa Desfamiliares, editado pela Annablume, no fim do ano passado.
Ela destacou os porquês da poesia marginal, das inquietações da Geração Mimeógrafo, que quebrou barreiras estabelecidas pelos meios de produção formais de editoração e as semelhanças com as condições de hoje em dia, em que é possível produzir, editar e vender o próprio material. “Uma das características que mudou foi a linguagem, que era mais agressiva antes e agora está mais irônica. Mas sempre questionadora dos poderes vigentes, das verdades absolutistas”.
Com a palavra, cada poeta debatedor falou um pouco de suas experiências, sendo que Aluízio destacou que a poesia marginal foi um dos recursos usados para combater a ditadura. A palavra foi aberta à plateia e a discussão girou um pouco sobre se o termo marginal era destinado ao poeta ou à poesia. E o debate se tornou ainda mais acalorado. Até mesmo a palavra de Clara, que engloba toda poesia como marginal, se contrapôs ao discurso colocado pela outra convidada: “não podemos classificar uma Cecília Meireles como poeta marginal”, declarou Leila.
VARAU POÉTICO - Enquanto o debate seguia seu curso, o saguão do TCP era tomado pelos panos-poemas e camisetas-poemas da poeta marginal Civone Medeiros, que fez o recital Um Amor para Chamar de Show, nos intervalos a programação. Muitas pessoas da plateia participaram, dando o tom de liberdade de expressão que é a tônica de todo Dia da Poesia.
A música ficou por conta da dupla Rafael Barros e Tiago Landeira, acompanhado dos músicos Toni Gregório (violão), Sami Tarik (arranjador e violonista) e Dudu Campos (percussão), que apresentaram o projeto musical “Os Chicos”. Logo em seguida, tomou conta do palco o cantor e compositor mossoroense Artur Soares, muito bem recebido pela plateia. O público mostrou que conhece quase todo o repertório do CD Bodoque, e não apenas o hit Meu Fusca Charlie. Foi um belo Dia Nacional da Poesia.
Eliade Pimentel
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