(publiojose@gmail.com)
Diferentemente dos tempos antigos, quando o processo de comunicação era demorado, do momento em que o fato acontecia até chegar ao conhecimento da população, hoje a cobertura é instantânea. Por mais desligado o cidadão, e mais distante o local onde resida, a informação chega até ele em tempo cada vez mais curto. Por um lado, isso trouxe a vantagem da instantaneidade; de outro, um altíssimo volume de exposição a cenas para as quais muita gente não está preparada. E o que se vê, em tempo demasiado, diante da tv, do computador, do smartphone não traz nenhuma satisfação. O mundo vive um daqueles momentos em que miséria, ignorância, fome, violência, corrução, analfabetismo e fenômeno climáticos contribuem para a formação de um caldeirão de tal dimensão que afeta as emoções (para alguns) a um ponto próximo da ruptura e (para outros) muito além do suportável.
Entretanto, tal fenomenologia é exclusiva dos dias de hoje? Claro que não. A diferença está nos métodos utilizados e no espaço de tempo em que os fatos chegam ao conhecimento geral. No mais, como dizia Lavoisier “na natureza (ou na vida) nada se cria; nada se perde; tudo se transforma”. Tanto é assim que o que é visto hoje já arregalou os olhos de muitos séculos atrás, milênios atrás. Populações inteiras igualmente aterrorizadas como as de hoje. Ora, o marginal que, de carro importado, arrasta alguém quilômetros e quilômetros não é o mesmo que, nos tempos bárbaros, ou mesmo na Idade Média, puxava o inimigo pelas aldeias de então amarrado à cela do cavalo ricamente ajaezado? Ora, direis, qual a diferença? Uma passada de olhos no Século XVIII e as cenas se repetem. Em plena ação, no nascedouro da Revolução Industrial, partidários de Ned Ludd quebrando tudo que encontravam pela frente.
Como se observa, no tempo o que difere é o discurso, o argumento. A energia para quebrar tudo o homem sempre teve. De sobra. E o que tem Ned Ludd a ver com essa história? Ele foi um personagem famoso durante quase uma década nas origens da Revolução Industrial, período de efervescentes descobertas na Inglaterra de 1779. As máquinas pondo em cheque a atividade artesanal em razão da produtividade que propiciava no confronto com o trabalho individual de então. Desemprego em alta, exploração da mão de obra feminina e infantil, péssimas condições de trabalho, salário vil. Nesse contexto, surge Ned Ludd (que muitos historiadores dizem ser o nome falso de Michel Homere) como o primeiro operário a arrebentar uma máquina em represália à realidade vigente – um verdadeiro “black bloc”. Seu gesto foi o rastilho de pólvora para a quebradeira generalizada que se espalhou pelos centros industriais.
Tudo muito semelhante ao que se vê hoje. Ned Ludd chegou ao ponto de se intitular general e levou a Inglaterra a um nível altíssimo de terror e insegurança, o que obrigou a Governo a editar leis duríssimas para combatê-lo. A partir daí, o “ludismo” passou a rotular os que se colocam contra novas tecnologias e que se insurgem pelo simples desejo de quebrar. Mesmo inconscientemente, os “black blocs” repetem o que ele fez séculos atrás. Enquanto Ned Ludd, sem nenhuma ideologia, arrebentava máquinas apenas pelo sentimento de revolta (sem buscar o diálogo nem apresentar proposta alguma ao Governo de então) os “Black blocs” contemporâneos se movem pelo mesmo afã estéril e improdutivo. Violentos gratuitos, difusos nas pretensões, assassinos potenciais, falta a eles tão somente a marreta ludista. De quebra, contam com a audiência e a impunidade que Ned Ludd nunca sonhou de ter.
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