sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Parece que foi ontem

Sílvio Caldas
 (jsc-2@uol.com.br)

É verdade. Parece que foi ontem. Mas já se passaram setenta longos anos que nasci. Só do meu querido Rio Grande do Norte já usufruo mais de vinte anos de felicidades. Sexta-feira passada colhi mais uma primavera. Passei também, por causa da compulsória, a desfrutar da comunidade da UVA (União dos Vagabundos Aposentados).
Confesso que tive medo de entrar num indesejável estado depressivo, pois foi um resto de semana carregado de emoções. Primeiro veio a minha desesperançada nomeação de desembargador, no meu querido Tribunal Regional do Trabalho. Luta longa e vitória de muitos pais. Fato que ocorreu na quarta-feira à noite. Na quinta, logo por volta das 08 horas da manhã, posse solene com direito a quebras de protocolo e verdadeiras e sinceras manifestações de carinho de todos os meus, agora pares. Palavras de acolhida e ao mesmo tempo de despedida, pois aquele, coincidentemente, seria meu último dia de trabalho. À tarde do mesmo dia meu pedido de aposentadoria, pois no dia seguinte entraria na compulsória.
Ainda durante o almoço do mesmo dia da posse tomei conhecimento de que teria que enfrentar uma nova ação movida contra a minha nomeação, agora alguém tentando anular o ato do Presidente da República. Resolvi mais uma vez entregar a Deus.
Enfim, chegou a sexta-feira. Exatamente no primeiro minuto do dia recebo o primeiro telefonema de parabéns. Osny e Claudinha, lá de Blumenau. E o sol não tinha ainda nascido direito começou uma verdadeira enxurrada de telefonemas. Por curiosidade contei as mensagens que recebi até o final do dia, entre telefonemas e e-mails, que versavam, umas pela posse, outras pelo aniversário: o espantoso número de 322 congratulações!
E o pior de tudo: embora costumeiramente simples e modesto, meu ego inflou como um balão de festa. E de repente eu disse para mim mesmo: eu acho que mereço mesmo! Tentei afastar de mim esse cálice de felicidade, mas minha consciência me disse que eu merecia tudo aquilo. Pelo esforço que tenho feito por merecer minha cidadania norteriograndense, pela sensação do dever cumprido nos limites da minha capacidade e seriedade profissional e pela boemia santa que pratico desde o primeiro dia em que aqui cheguei há 23 anos.
Aproveito esse espaço na coluna, hoje, para agradecer a Deus pelos meus setenta anos de vida e aos amigos que aqui conquistei, bem como a todos aqueles que me apoiaram na luta pela bendita nomeação, mas avisando sempre: a luta continua, pois alguém (aquele mesmo alguém) já ingressou com nova ação tentando conseguir a desnomeação, em que pese eu já está agora aposentado!

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