quinta-feira, 14 de abril de 2011

Lost Zweig e o xadrez da existência

João da Mata Costa
Escritor

O escritor austríaco Stefan Zweig (Viena, 28/11/1881 — Petrópolis, 23/02/1942) viveu no Brasil onde cometeu suicídio em 1942. Sobre o nosso país ele ficou encantado com a diversidade e convivência de raças e povos das mais diferentes regiões do planeta. De suas boas impressões do Brasil escreveu “Brasil País do Futuro”. Nesse livro Zweig escreve desde o descobrimento (acidental?) do Brasil, capitanias hereditárias, ação jesuítica, invasões  holandesa e francesa, a restauração e a inconfidência mineira, etc.  Mesmo vivendo no Brasil no tempo da ditadura Vargas do Estado Novo (1937- 1945), quando Olga Benário foi deportada e morta nos campos de concentração, o escritor tinha fé no futuro do Brasil devido ao seu presente digno e seu passado sem guerras e sem necessidade de  racializar a política e as relações humanas ( Ronaldo Vainflas FSP 18/10/2009).
No início do século XVIII o Brasil se revela o mais rico país de ouro do mundo. Esse ouro vai reconstruir Lisboa depois do terrível terremoto de 1755, e vai influenciar de maneira decisiva a economia européia do Iluminismo que brilhou em parte com o nosso ouro. O Convento de Mafra foi edificado como “quinto” que por lei o Brasil tinha que enviar para Portugal (pp. 80 “ Brasil, País do Futuro”, vol. VI  Obras Completas).
Judeu, humanista, pacifista e crítico do nazi-fascismo, teve seus livros proibidos e queimados em praça pública. Em 1933, sua novela "Ardor Secreto" foi adaptada para o cinema, incitando a ira dos nazistas contra o escritor e seu contrato com a editora foi suspenso. Em 1934, Zweig iniciou sua peregrinação pelo mundo. Inicialmente radicado na Inglaterra, que lhe concedeu cidadania, Zweig se casou com sua secretária, Charlotte Elizabeth Altmann.
O jornalista Alberto Dines escreveu um belo livro sobre a sua estadia no Brasil MORTE NO PARAISO: A TRAGEDIA DE STEFAN ZWEIG
Em 2003, o cineasta Sylvio Back filmou “Lost Zweig”, baseado no livro de Dines, e em 1995 Zweig - A Morte m Cena. Zweig refugiou- se no Brasil com sua companheira Lotte, protagonizado pela atriz Ruth Rieser. No filme Lost Zweig aparece o escritor Stefan Zweig ( Rüdiger Vogler ) jogando xadrez - uma de suas grandes paixões -, e “sobre esse jogo que você joga conta você mesmo” ele escreveu um livro publicado posteriormente à sua trágica morte.
No filme de Back aparecem imagens do cineasta Orson Wells e o envolvimento do escritor com uma bela morena que trabalhava nos correios. Zweig chega no Brasil durante o carnaval e fica encantado com a alegria real dos brasileiros, apesar das dificuldades econômicas e do governo ditatorial de Vargas, não tão cruel como os regimes políticos europeus do chamado primeiro mundo.    
Stefan Zweig foi um grande escritor erudito e o seu primeiro livro, uma coletânea de poemas, foi escrito em 1902, Silberne Saiten (Cordas de Prata).  Escreveu as peças "A metamorfose da comédia" e "A mansão à beira mar". Seus livros eram editados em grandes tiragens e traduzidos nos principais idiomas cultos. No Brasil, a Editora Delta, lançou sua Obra Completa em dez grossos volumes em capa dura. Leio-os com grande prazer e proveito. Na biografia de Maria Antonieta, um dos seus grandes livros, Stefan faz uma confissão do fazer biográfico: “... A história, esse demiurgo, desdenha personagem central cheio de heroísmo para construir drama emocionante. O trágico não resulta tão só dos traços exagerados de um homem mas, ainda e sempre, da desproporção entre o homem e seu destino..."
Durante a Primeira Guerra Mundial, em 1915, casou-se com a escritora Friderike von Winsternitz e comprou uma casa em Salzburgo, aonde viveu por 15 anos. Foi uma das fases mais ricas de sua produção literária. Ele escreveu as biografias de Dostoievski, Dickens, Balzac, Nietzsche, Tolstoi e Stendhal. Anos mais tarde lançou as biografias de Maria Antonieta, Fouché, Rilke e Romain Rolland.
Quatro anos mais tarde foi para Nova York e acabou se mudando para o Brasil em 22 de agosto de 1940. O país o inspirou a escrever "Brasil, país do futuro". Morando em Petrópolis, cidade serrana do Rio de Janeiro, finalizou sua autobiografia, "O mundo que eu vi"; escreveu a novela "O jogador de xadrez", e deu início à obra "O Mundo de ontem", um trabalho autobiográfico com uma descrição da Europa antes de 1914.
Em 1942, deprimido com o crescimento da intolerância e do autoritarismo na Europa, e sem esperanças no futuro da humanidade, Zweig escreveu uma carta de despedida e suicidou-se com a mulher "Lotte", com uma dose fatal de barbitúricos num copo de água Salutaris. Um ano após essa data, o Brasil entra na II guerra mundial para combater o Nazismo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário