Paulo Correia
Jornalista
ph-correia@uol.com.br
A revista Aventuras na História de junho traz uma reportagem, assinada pelo jornalista Wagner Gutierrez Barreira, que exibe a cronologia trágica da censura para com os órgãos de imprensa no Brasil desde a colonização. Um relato dos abusos sofridos pelos que desejavam fomentar no país um jornalismo livre e democrático, mas que ia de encontro aos interesses da Coroa portuguesa ou de barões da cana de açúcar, durante aqueles tempos, e contra a ditadura militar dos generais de 1964 e de certos políticos, durante os tempos atuais.
Na matéria, a certeza que o uso da mordaça foi frequente desde o primeiro momento dos portugueses em nosso território, censurando livros, tipografias e até a criação de cursos superiores no Brasil. Uma afronta que prevaleceu com força também durante a República, proclamada em 1889.
Nos anos de 1930 a nação observou Getúlio Vargas assumir o poder. O baixinho de São Borja mostrou a que veio e fechou com mãos de ferro importantes órgãos de imprensa de São Paulo e Rio de Janeiro, como foi o caso do jornal da família Mesquita, O Estado de São Paulo.
A partir de 1964 a paulada foi maior. A violência do regime militar contra repórteres e fotógrafos era diária. O caso do assassinato do diretor de jornalismo da TV Cultura, Vladimir Herzog, em outubro de 1975 foi o ponto mais cruel desses anos de sombras. Ali a censura mostrou todo o seu poderio e toda a sua loucura contra o jornalismo. Uma covardia contra a liberdade.
Segundo a matéria, os censores do governo militar somente abandonaram as redações dos jornais e revistas em 1978. Atrás deles, mais de 100 processos abertos na Justiça Militar contra jornalistas. Uma verdadeira caça as bruxas em pleno século XX.
Mas para quem acha que tudo acabou, que a censura contra a imprensa e os seus profissionais é algo de um passado distante, se engana redondamente. Nunca foram tão atuais as tentativas de cercear o trabalho desses jornalistas. Das mortes encomendadas de repórteres e radialistas em pequenas cidades espalhadas pelo interior do Brasil, até a proibição do jornal O Estado de São Paulo de publicar qualquer notícia sobre Fernando Sarney, filho do senador José Sarney, a nossa imprensa sofre com o apertar da velha mordaça.
Até quando o Brasil irá tolerar isso? Até quando a Justiça vai ficar calada sobre esses abusos contra a democracia e contra a vida?
Nenhum comentário:
Postar um comentário