Leonardo Sodré
Jornalista
Semanalmente, geralmente às sextas-feiras ou sábados, um grupo de saudosos ex-atletas do futebol de salão se reúne na confraria do Bar Azulão para conversar e, invariavelmente, reviver os bons tempos dos times que disputavam os campeonatos locais e os brasileiros daquela modalidade. Entre eles Dodoca Benfica, Véscio Pinheiro, Evandro Montenegro, Dailor Pessoa, Décio Holanda, Maurício Baíto, entre outros.
Fazem parte da geração de ouro dos craques dos anos 1960. A maioria já superou os 60 anos, mas parecem meninos quando contam as Histórias e as estripulias vividas naqueles tempos românticos, onde toda a rivalidade estava dentro das quadras. Dodoca, o eterno menino brincalhão, que todas às vezes que chega ao bar entra sem camisa para ser expulso e voltar vestido, parece um rapazinho quando conta as presepadas vividas entre eles, incluindo o lendário Arturzinho, que não é de freqüentar bares.
Mas, numa sexta-feira de poucos clientes e vários ex-atletas, as lembranças foram para aqueles que já partiram, motivados pela morte, há alguns dias, de um dos maiores jogadores de futebol de salão que o Brasil já conheceu: Salvador Lamas, que aliava sua condição de empresário do ramo de variedades com a prática do futsal, como hoje chamam o futebol de salão.
Evandro Montenegro, competente ex-pivô do time de Ceará - Mirim e várias vezes jogador da Seleção Norteriograndense, contou uma História emocionante, que fez brotar lágrimas em vários ex-atletas e outros participantes da mesa, como o dentista Lenilson Carvalho. Ele falava sobre o estilo correto, a técnica e a generosidade de Salvador Lamas, e lembrou-se de um fato ocorrido horas antes de o América, onde Salvador jogava, disputar a final de um Campeonato Potiguar contra o ABC. E contou:
“Não me lembro do ano, mas foi na década de 1960”, iniciou. “Domício Damásio, atleta do ABC - outro craque conhecido pela correção dentro e fora de campo - procurou Salvador Lamas horas antes da disputa do campeonato. Por algum motivo o time de futsal do ABC estava sem terno para jogar”, relatou. “Um time não poderia jogar uma final sem a camisa do clube e por isso Salvador abriu sua loja, Casas Lamas, na Ribeira e vendeu um terno completo, fiado, para o time do ABC, eterno rival do América”, concluiu Evandro Montenegro.
“A verdade é que as diretorias do América e do ABC não davam bola para o salão”, disparou Dodoca, reavivando uma velha queixa. “É verdade, Arturzinho levava o time inteirinho do juvenil do América no seu Fusca. Eu, o eterno reserva, fui muitas vezes feito uma sardinha para o Palácio dos Esportes”, completei.
O fato é que o ABC, de terno novinho em folha, terminou vencendo o campeonato naquela noite vestido por um americano. Sobra desta História emocionante, recheada de espírito esportivo, um exemplo para a geração atual de torcedores que se engalfinham nas ruas e nas quadras por não entenderem que o esporte serve, sobretudo, para unir.
Prezado Leonardo Sodré,
ResponderExcluirSalvador Lamas foi meu sogro. Um homem que aprendi a admirar e respeitar. Suas palavras foram perfeitas ao descrevê-lo. Sua crônica traduz o verdadeiro espírito do homem, atleta, marido e pai que Salvador foi.
Muito obrigado!
Estou compartilhando com a família.
Abraços!
Carlos von Sohsten