terça-feira, 22 de junho de 2010

De goela abaixo

Eduardo Alexandre
Jornalista

"O tempo para discutir o local já se venceu. Se abrirmos brecha para essa discussão poderemos perder a Copa." Kelps Lima, no http://leonardosodr e.blogspot. com/

Foi como apoplético que o natalense recebeu a notícia de que iria sub-sediar jogos da Copa 2014. Tudo chegou de repente e com essa chantagem: se vacilar em qualquer item que não concordem, perdem a oportunidade de Natal ter a Copa.

E a FIFA chegou com um projeto de Arena linda para Natal. E mais: todo o nosso parque público/administrati vo estadual seria transformado em estadual e municipal com a construção de mega-edifícios nos mais modernos padrões arquitetônicos e de conforto e beleza. A cidade ganharia novas vias, a saúde melhoraria, a segurança seria assegurada, Natal nunca mais seria a mesma. Tudo uma maravilha!

Um técnico teria sobrevoado a cidade e escolhido: o lugar ideal é aquele! E apontou para a área onde temos os nossos Machadão, Machadinho, Centro Administrativo, creche e Papódromo, afora o sonho de um Observatório Espacial.

Prédios imensos para a burocracia estadual e municipal. Estádio e ginásio de encantar a vista de todos. E dinheiro fácil para se transformar Natal, de vez, na Natalópolis dos sonhos futuro-progressista s.

Uma só implicação: tudo o que há ali, teria de ir ao chão, ser demolido, para dar lugar ao mega projeto das mil e uma noites vindo dos States, tudo primeiro-mundistame nte projetado. Uma beleza!

Quem era doido de não querer Natal na Copa Brazil/2014? Ninguém. Ninguém era doido de dizer que não queria estar na Natal da Copa 2014.

Era como se soltassem uma manada de meninos numa agigantada maquete erguida a chocolate. Todos se lambuzaram.

Um ou outro alérgico a chocolate tentava uma opção gustativa: será que não tem um pudim? Um bolinno de milho? Um alfinim?

No que era logo admoestado: Cala-te! Quiere que percamos todos a nossa gostosa comilança?

Discussão nenhuma houve sobre o assunto. Foi assim, veio assim e pronto. Era assim. Tinha de ser assim.

Discutir o quê, por quê? Havíamos ganho uma loteria mundial. O nosso sonho de terra do turismo finalmente decolaria ao cosmos. Seríamos a Natal Intergalática! Maravilhosa e leal.

Uma só implicação: destruir todo aquele patrimônio já incorporado à paisagem da cidade.

Noutro local não poderia ser. Não seríamos loucos de contrariar os homens da FIFA que nos chantageavam com argumentação tão convincente, com projeto tão belo e de tão fácil consecução: assinar uns papeizinhos de compromisso e dizer que sim, pode botar tudo abaixo que tem nada, não: vocês vão mesmo contruir tudo em dobro e em triplo depois... Pois, sim.

Não vou aqui discutir a chantagem do argumento de Kelps; não o valor do patrimônio; não o valor cifrado em $s como os de suas palavras; nem o valor histórico de um patrimônio já incorporado à imagem própria da cidade, com seu valor arquitetônico único, com seu apelo histórico/sentimenta l.

Dizer que a cidade discutiu o assunto é falaciar o debate. É usar de um argumento de chantagem já usada para tentar fazer calar os que se opõem à isana tentativa de destruição de um bem público, de todos, como dita e grifa a propaganda governamental.

O projeto virtual que chegou a todos com obrigação de acatamento, chegou como comida de peru de Natal, de goela abaixo, empurrada e, para o peru, com fim trágico, o que espero não aconteça a nossa história.

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