Walner Barros Spencer
Escritor
Uma das grandes verdades da psicologia humana é sua reação às condições de combate em uma guerra. Em situação desse tipo aflora o verdadeiro caráter da pessoa. A conjuntura é tão estressante que o raciocínio falha em manter os objetivos coletivos abstratos para salvaguardar o organismo físico. O que interessa, o que domina é a meta de sobreviver, e sobreviver a qualquer custo. Se isto acontecer, então sim, a pessoa pode retornar à personalidade dos tempos de paz, digamos, à personalidade de uso social, onde perder não representa, necessariamente, perder.
Uma campanha política é um estado similar à guerra e a exposição de um candidato, com suas expectativas, ilusões, desejos e projeções, cria igual similitude entre a derrota nas urnas e a morte física, especialmente para os neófitos, os passageiros de primeira vez.
Nessas circunstâncias, a ansiedade de perder transforma-se em pânico de morrer, a preocupação em não se expor, em terror de se movimentar, e surge então de súbito um novo comportamento, independente e contrário, o inverso mesmo, daquele que todos apostariam que a pessoa adotasse. A questão é apenas esta: a personalidade social é muitas vezes um engodo, para o bem ou para o mal, e fácil de ser dissimulada, escondida, camuflada. Enfim, uma personalidade montada, estruturada para enganar a outrem. Uma personalidade falsa, portanto. Quanto mais ‘edificado’ for o arcabouço de caráter, maior será a estupefação e o espanto dos outros ao mostrar mudanças negativas bruscas quando sob tensão extrema.
Essa é a razão precípua das ações destemperadas vindas de pessoas com personalidades de tal modo construídas, por ela e pela transferência idiossincrática de outros, que, pela deformação psíquica que causam, são quase que vazias em conteúdo quando ela é obrigada a atuar na vida real, e não ser personagem de uma peça teatral.
Tal fato aconteceu recentemente com a Marina Silva ao lançar-se candidata oficial do PV à Presidência da República. De um instante para outro, provavelmente sem força para resistir a ‘assessores’, mudou da pureza cristalina da água para o sabor avinagrado de um vinho de qualidade inferior, industrialmente falsificado.
Se ela pensa que pedir que as pessoas rezem para que uma mulher preconceituosa e racista seja a mandatária maior da Nação, lhe dará votos, é um gambito no jogo de xadrez, quando o jogador sacrifica uma peça para tentar ganhar o jogo. Alguém devia ter avisado-a que se acautelasse, pois essa tática enxadrística é tão perigosa que apenas grandes jogadores a utilizam em jogos decisivos. E Xadrez não é o jogo de Damas, onde as peças podem ser recuadas.
Dizer que deve ser votada porque é negra não tem lógica num país em que as diferenças raciais – e não as diferenças econômicas – não existiam antes desse atual presidente petista, cujo cabelo de um prateado escandinavo diz bem de sua descendência.
Dizer que é pobre e sempre foi é criar uma ‘classe’ eleitoreira, pois o objetivo de todos deve ser acabar com a pobreza. Pobre não é classe, é situação desfavorável de vida. Nascer sem nada, todos nascem. Quem, por acaso, perdeu tudo não vira pobre? Ou ela está se referindo à falta de cultura, a um comportamento típico e estereotipado de ‘pobre’ de novela?
Seja como for, nenhum Senador é pobre, muito antes pelo contrário. Depois, ela é culta e estudada, formada academicamente em História, Professora de História, a minha profissão, o que piora sensivelmente os fatos por causa do manuseio e da escamoetação de elementos históricos. Nesse caso, ela esqueceu-se de dizer, todavia, que a família – rica, remediada ou pobre – é fruto do caráter dos pais, dependendo quase nada da condição econômica, mas da vergonha na cara.
Ser negra - se é um problema de vergonha e atraso para ela -, não o é para milhões de cidadãos negros brasileiros, que vão à luta sem choramingar esmolas e benefícios por causa da cor de sua pele. Por sinal, ela é mistura de tons de pele e, como a maior parte do povo brasileiro, descende de uma maravilhosa mistura genética de todos os continentes, e este negócio de dizer que mestiço é indolente e inferior, é uma tese eugenística abandonada pela academia no final do século XIX, com a exceção, para simples confirmação da regra, das terríveis considerações racistas do NSDAP, o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães.
Pobre desse país em que uma enorme massa humana tem de ser mantida miserável para que os “falsos profetas’ a use em seus desígnios egoísticos e mentirosos.
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