segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Trabalhando em um covil

Paulo Correia
Jornalista /
paulo.correia@r7.com

Acaba de chegar às locadoras de vídeo um dos filmes mais chocantes e reveladores do ano: A Informante, com a linda e talentosa Rachel Weisz no papel principal. Na história, baseado em fatos verídicos, a atriz interpreta a policial Kathryn Bolkovac, americana que em 1999 aceitou participar de uma força-tarefa montada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para ajudar na recuperação da Bósnia-Herzegovina (devastada pela sangrenta guerra racial que abalou a região dos Bálcãs depois do colapso da Iugoslávia) e que descobre fatos acobertados pelos seus “insuspeitos” chefes.
Na película, observamos que o que aconteceu de verdade com a chegada dessa força-tarefa foi um aumento significativo da prostituição e da corrupção policial na região. Dois fatos que tinham o total apoio dos homens contratados por essa força pacificadora.
Na história, a policial Kathryn começa a sua investigação meio que por acaso, quando descobre duas jovens espancadas em um bar local. Logo depois disso, ela irá descobrir que o bar é na verdade um ponto de prostituição da cidade, e mais do que isso, descobre que o local é freqüentado pelos seus colegas de força-tarefa. Mais a frente, ela descobrirá que as prostitutas não estão ali por que querem, mas porque são obrigadas. Uma extensa rede de tráfico e escravização de jovens búlgaras é apresentada a policial nesse momento. Uma violenta rede que não encontra resistência nos funcionários a serviço da ONU, mas acolhimento e parcerias.
No filme, a policial tenta de todas as formas alertar as autoridades para o fato e encontra pouca ajuda com os seus superiores. Com isso, descobrirá que trabalha em um covil.
A Informante é um recado sobre a tragédia de uma guerra e o descaso com milhares de jovens. Uma história real que aconteceu na Bósnia de 1999 e que ainda ecoa nos quatro cantos do mundo em 2011. Uma realidade de escravidão sexual e assassinatos pouco investigados.
Para o leitor ter uma idéia, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgou em 2010 dados sobre o tráfico de pessoas no mundo. De acordo com a instituição, 2.4 milhões de pessoas estão nessas condições atualmente, vivendo como mercadoria em permanente troca. Desse número, 43% destinam-se à exploração sexual.
 Aqui no Brasil, e principalmente no Nordeste, a mão-de-obra escrava que mais se exporta é o nicho feminino. Notadamente para os bordéis e casas de massagem na Europa e países como a Venezuela, Colômbia, Paraguai e Guiana Francesa.
No relatório da OIT, as cidades de Recife, Salvador, Natal e Fortaleza são os pontos iniciais de partida dessas mulheres para os grandes centros. Os destinos finais na Europa são países como a Alemanha, Espanha, Itália e Portugal.
 Destinos que exibem para essas meninas o mundo das dívidas na chegada, sexo sem hora para acabar, drogas pesadas e mortes em valas comuns no final do dia.
 Até quando?

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