sábado, 18 de abril de 2015

Se Lampião fosse vivo...


Minervino Wanderley* 

Cheguei no consultório médico na hora prevista. Prevista de besta. Isso não existe. Quando chega a nossa hora o cara nem aparteceu ainda. Ninguém conhecido para uma prosa. Peguei uma revista e era a IstoÉ, de 10.11.2010. Na página 72, uma matéria chamou-me a atenção. Assinada por Wilson Aquino, tem o seguinte título: “A influência estética de Lampião”. No texto, Aquino quase que chega chamar Capitão Virgulino de gay. Vejamos alguns trechos:

- “Mas, quando não estava praticando crimes, o cangaceiro se atracava com agulhas e linhas para costurar e bordar, lindamente, roupas e lenços que usava ao estilo Jacques Leclair.”

-  “Ele não era apenas o executor do bordado. Era também um estilista.”

 - “FRESCURAS NO CANGAÇO. O lenço dos cangaceiros era feito de seda inglesa ou de tafetá francês. A jabiraca de Lampião era em seda vermelha e contava com 30 alianças de ouro.”

- “Se tivesse escolhido a profissão de costureiro, Lampião (até hoje constantemente revisitado pela indústria fashion) certamente teria tido uma carreira brilhante.”

Durma-se com um barulho desses! Esse camarada não sabe que Lampião era tão hábil com a espingarda que conseguia dar tantos tiros consecutivos que clareavam a noite. Por isso, Lampião. Se essa figura dissesse essas coisas há 80 anos ele iria ver que o Capitão Virgulino costurava mesmo era com uma 44 Papo Amarelo.

Aquino com certeza não conhece a história da quadrilha junina que o Capitão organizou numa fazenda e que seu bisavô (De Aquino) participou. Só que esse fuzuê, além de ter Lampião como marcador, era diferente num aspecto: todo mundo nuzinho. Agora, quem conta a história é um dos participantes dessa “festa”:

O Capitão mandou fazer as fileiras e mandou todo mundo tirar a roupa. Ordem rapidamente obedecida. No meio da quadrilha, Lampião gritou:

- Todo mundo com um dedo na boca e outro “lá” (vocês sabem aonde). Ordem imediatamente obedecida.  - Daqui a pouco ele disse:

- Trocar de dedo! O dedo que tava na boca vai pra “lá” e o outro vai pra boca.

Foi aí que o bisavô de Aquino caiu na besteira de dizer:

- Mas isso, Capitão?

O Capitão deu um olhar de matar cobra venenosa e gritou:

- Isso o quê, cabra?

O camarada afroxou e, gemendo, disse:

- Isso é bom demais, Capitão!

Esse recado é pra você, Wilson Aquino.

*Jornalista

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