segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

FLUINDO SEM MEDO DE SER FELIZ

Por Flávio Rezende*

    Algumas pessoas são muito apegadas ao que chamam de “raízes”. Seguindo vida afora dentro deste paradigma, nascem, vivem e morrem quase que comendo os mesmos alimentos, professando a mesma religião dos pais, torcendo pelos times majoritários no seio familiar e acreditando nas mesmas teorias e filosofias que ouvem quando jovens.
    Não estou escalado neste time. Acredito que minha sede de livros abriu as portas para um vasto mundo e, influenciado por eles e por ideias e crenças além do muro de minha casa, fui abraçando causas e seguindo outros caminhos, sempre com o respeito e até o assombro dos pais e amigos.
    Diferentemente de todos que me cercavam, tendi para as coisas da Índia quando a questão era religiosa. Meu caminho foi mais pelo esoterismo e pelas práticas místicas.
    Na política enquanto meu pai falava das proezas dos regimes militares, eu participava de reuniões quase secretas do Comitê de Anistia, dos Direitos Humanos, de reuniões do então clandestino Partido Comunista e, lembro-me de ter participado das primeiras reuniões de fundação do PT - numa salinha perto da Igreja do Galo - e do PMDB. Neste campo ouvia também preleções da LIBELU e lia Leon Trótski e Lenin, entre outros. 
    Na área profissional enquanto meus pais imploravam para que fizesse o concurso do Banco do Brasil, decidi com firmeza fazer vestibular para Comunicação Social, mirando o futuro num restrito campo profissional, onde reinavam absolutos somente a Tribuna do Norte e o Diário de Natal.
    Minha saudável rebeldia deu certo e, hoje, comemoro, perto da aposentadoria, ter ido por ai, tendo percorrido uma prazerosa carreira jornalística, conseguindo militar em vários veículos sempre valorizando a cultura do bem e impondo meu estilo pacífico diante de companheiros um tanto quanto adeptos de tintas fortes na crítica e no julgamento.
    E segui a vida sempre lendo e aceitando influências diversas. Com o tempo mudei em diversos aspectos e, em todas as mudanças, me senti feliz com as novas opções, não renegando o que ficou antes pelo contrário, achando que todos os caminhos foram igualmente importantes na construção de minha felicidade pessoal.
    No campo do futebol escolhi o América e depois mudei para o ABC por ter um irmão deste time que me levava para todos os jogos. Então foi natural que eu virasse “casaca”, pois era um americano que só ia para jogos do ABC.
    Na área espiritual já acreditei num monte de coisas e, hoje, prevalece à crença de que nossas tendências adquiridas ao longo de várias vidas sobrevivem à morte e voltam em novo corpo, não com lembranças de nomes, relações e coisas pontuais, mas, com as inclinações para os dotes artísticos, os gostos e as posturas.
    Ando lendo muito sobre a história do nosso planeta e, quanto mais mergulhamos nos fatos do passado, mais percebemos que muitas coisas espirituais não são tão sobrenaturais assim, são na verdade mecanismos de defesa e de deslumbramento diante do desconhecido, uma espécie de reverência, medo e de respeito da mente pelas coisas que não conseguimos explicar.
    Ando nutrindo especial interesse pelo estudo do cérebro, encontrando neste mister, explicações que até então creditava ao campo metafísico.
    E assim vou mudando. Agora mesmo, depois de doze anos não comendo carne, tendo aderido à dieta vegetariana, decidi voltar a comer aqui e ali carne, especialmente as brancas.
    Continuo achando que os animais tem direito a vida, mas, esse desejo que andava adormecido voltou à tona, não sei por qual razão, então decidi não reprimi-lo e vez por outra estou comendo carne novamente.
    Fica cada vez mais claro que a repressão de alguma coisa é perigosa, e uma intuição me direciona para o caminho do meio. Então antes que esse desejo de comer carne chegasse a um nível muito alto, optei pela mudança e adesão a uma dieta que contemple carnes num nível suave.
    E assim vou vivendo. Passei também 11 anos sem usar óculos escuros depois de assistir a uma palestra de Evelyn Torrence, aquela que diz viver de luz, de prana. Agora ando com vontade de voltar a usar óculos escuros e vou comprar um.
    Como já disse Flávio Zanatta, o introdutor da macrobiótica no Brasil, “a única coisa que não muda, é que tudo muda”. 
    O importante é que no seguir do existir, eu vá fluindo numa felicidade cada vez mais crescente e, possa através das leituras, perceber que o que chamamos de mente é, na verdade, o que alguns chamam de Deus, afinal, os grandes mestres, aqueles que mergulharam mais profundamente repetiram várias vezes que Deus está dentro, que a fé remove montanhas, então fica cada vez mais claro que esse Deus interior é nosso cérebro e, se conseguirmos domar sua parte que nos rebaixa, certamente a parte que nos eleva, prevalecerá, abrindo um céu de oportunidades, um paraíso de poderes, nos tornando super homens, super deuses, capazes de compreender finalmente que a eternidade é um estado permanente de bem aventurança, seja num corpo material, seja num ambiente espiritual, seja em que tempo for.
   
*    Escritor, jornalista e ativista social em Natal/RN (escritorflaviorezende@gmail.com)

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