sábado, 26 de julho de 2014

A irreverente Gardênia Lúcia

Edgar Allan Pôla 

Gardênia é personagem das mais conhecidas no Beco. Quem a chama de Edmilson, tem resposta imediata:

- Gardênia Lúcia.

Falando, é apressado, cospe, e pouco se entende do que diz. Barriga proeminente, sua gesticulação parece toda estudada, mãos quase sempre em L.

Ano passado, para tornar mais alegre a parada gay, as meninas da turma do Beco resolveram investir em Gardênia.

Arranjaram vestido, compraram sapatos de salto e bolsa combinando, e levaram-na para o Café Salão Nalva Melo, na Ribeira, para a devida produção. Unhas pintadas, peruca bem escolhida, nem a própria Gardênia acreditava no milagre obrado.

Na porta do salão, num Jeep amarelo e sem capota, o motorista de Hugo Manso já esperava pela grande atração da tarde.

Não precisa dizer que Gardênia arrancou aplausos da multidão; foi fotografada por Diário, Tribuna; concedeu entrevistas a emissoras de televisão; distribuiu simpatia.

O séquito da grande atração era inumerável: Help, Wadia Massud, Assunção, Ceiça, todas as mulheres do Beco.

Fim de festa, todos para o bar de Pedrinho com festa prolongando-se noite adentro, com todos resenhando os acontecimentos, quando resolvem fazer à diva do dia a pergunta fatal:

- E aí, Gagá? Gostou da festa?

Gardênia retorceu-se de um lado para o outro, gaguejou, pediu cigarro, demonstrando grande inquietação.

- Mas, e aí, Gardênia? Gostou ou não da festa?

- Gostar, gostei. Só não gostei mesmo foi de ter de usar toda essa roupa que me arranjaram.

- Mas, Gardênia, que é isso? Você foi a mais bonita da festa; a mais festejada...

- Quer saber mesmo, quer? Eu não sou nem gosto de ser travesti. Eu sou e gosto é de ser viado mesmo.

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