Leonardo Sodré
Jornalista e escritor
No sábado, 14 de maio, o estádio Machadão recebeu 18 combatentes que defendem a sua manutenção e lutam contra sua derrubada. Assim como a famosa revolta dos 18 do Forte, em 06 de julho de 1922, quando apenas 18 militares se insurgiram contra o presidente eleito do Brasil, Artur Bernardes, no meio da rua, essas poucas pessoas mostraram a cara e suas armas: cartazes e discursos.
Da mesma forma como os 18 do Forte de Copacabana, os 18 do Machadão tinham por trás de si um batalhão de pessoas, muito mais do que os 301 que haviam no Forte de Copacabana. Naqueles dias duros da República Velha, 272 militares debandaram e o restante saiu pelas ruas, depois do forte ter sido intensamente bombardeado, sendo que quando entraram na Avenida Atlântica, somente 18 saíram de peito aberto para uma batalha desigual contra mais de três mil homens do governo. Dos 18, apenas Eduardo Gomes e Siqueira Campos sobreviveram.
Os 18 do Machadão estão vivos. Foram atingidos apenas pela debandada dos muitos que são contra a derrubada do estádio, incluindo aí dirigentes de clubes e ex-cartolas que se manifestaram anteriormente contra isso. Foram atingidos também pelo desconhecimento das autoridades responsáveis pela derrubada do Machadão, que insistem em não enxergar os pedidos de manutenção da praça esportiva.
São, para os governos estadual e municipal, que não estão preocupados com a preservação e a memória de Natal, uns pobres fantasmas que rondam um patrimônio prestes a ser destruído em nome do desenvolvimento econômico.
Os 18 do Machadão caminharam com altivez.
Fazendo uma comparação da foto de Moacir Gomes – arquiteto que projetou o Machadão - dando à volta olímpica a frente do grupo, sua altivez e a seriedade de como os abnegados enfrentaram a chuva e o desprezo de muitos, com a foto dos 18 do Forte de Copacabana, dá para entender o espírito de luta daqueles que enfrentam uma batalha incomum e desigual.
Como já escrevi antes, os 18 do Machadão, a exemplo dos 18 do Forte de Copacabana, poderiam não alcançar nenhuma vitória. Não poderiam mesmo ir contra os poderosos que decidiram destruir um bem público em nome da p0ssibilidade de uma “arena” que irá abrigar grandes jogos após a Copa do Mundo de 2014.
Os 18 do Machadão caminharam em direção a História, assim como os 18 do Forte de Copacabana também o fizeram. Hoje os 18 do Forte de Copacabana são reconhecidos como heróis. Os 18 do Machadão entrarão na História do Rio Grande do Norte como revoltosos. Hoje ridicularizados por muitos. No futuro servirão de exemplo.
Realmente, não houve tristeza nem desapontamento com a grande abstenção verificada, já que a expectativa era favorável a que houvesse maior comparecimento. Como afirmou o articulista, "os 18 do Machadão caminharam com altivez". O fato é que ficou lavrado o protesto.
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