sábado, 29 de maio de 2010

O (possível?) amor dos homens

Públio José – jornalista

(publiojose@garrapropaganda.com.br)

O amor é uma das palavras mais pronunciadas ao longo da história. Aliás, bem mais do que uma simples palavra, uma verdadeira instituição universal. Quando se fala e se exercita o amor no local de nascimento, de moradia, ou em qualquer parte, sabe-se que o entendimento ocorrerá – mesmo diante de diferenças de qualquer ordem, sejam lingüísticas, culturais... Em diferentes ocasiões e circunstâncias as mais diversas, o termo habitou a boca de políticos, trovadores, escritores... E o homem se matando. De religiosos, imperadores, ditadores, democratas... E o homem roubando, adulterando, ferindo seu semelhante. Também foi cantado em prosa e verso nas mais diferentes latitudes e longitudes. E o homem distorcendo, massacrando, agredindo seu semelhante... Se o amor existe e todas essas coisas acontecem, imagine se ele não existisse. E o homem torturando, humilhando, oprimindo seu semelhante.
Diante de tal quadro, onde encontrar na existência humana pelo menos resquícios da prática do amor? O amor existe, é certo! Mas onde está? Onde vê-lo na nossa rotina diária? Pois, por mais desestimulante e decepcionante que seja a nossa visão do dia a dia (carregada de crimes e violência de toda ordem), ainda é possível enxergar, entre as brumas dos fatos diários, a prática do amor entre os homens. Muitas vezes de forma quase anônima, como é requerido pela sua consistência altruísta. Outras vezes de forma mais pública, mais notória, quando praticado em prol de uma causa, de uma coletividade. O importante é que sejam gestos e atitudes de amor verdadeiro, pois o contrário soa falso, enganador. Embora aparentemente complexa, é de fácil constatação a prática do amor verdadeiro. Basta se observar se o gesto de amor que alguém exercita pode se voltar contra ele mesmo.
Pois o amor, em sua essência, é atitude tomada em favor de alguém como se fora para si mesmo. Não é assim que Jesus posicionou o amor, segundo o propósito de Deus para os homens, quando disse “amai ao próximo como a ti mesmo”? Porquanto, mesmo diante da realidade atual, tão distante e conflitante em relação ao significado do termo, ainda é possível se notar amor do homem por outro ser humano, o que comprova o enorme poder do amor em sobreviver como atitude, como gesto – até como virtude humana moral através do tempo. Nada impede o amor de acontecer, de brotar, mesmo que as circunstâncias para o seu surgimento sejam as mais absurdas, as mais improváveis. E a sua característica sublime, celestial, espiritual se afirma quando consegue se manifestar entre os homens. Um habitat, afinal, nada condizente com o amor e naturalmente propenso ao ódio, ao individualismo, à violência.
O amor se manifesta em sua real dimensão quando alguém deseja de bom para si o mesmo que deseja para o próximo. Ou quando, melhor ainda, transfere para outro o cuidado, o zelo, o carinho, a atenção que gostaria de ver direcionados para si. É fácil? Não, não é. Além do mais, em função da natureza humana, difícil de encarar o outro no mesmo nível que a si próprio. Mas o amor faz seus milagres. E sobrevive, e segue adiante, e acontece. Qual o motivo, qual a razão? Pela sua natureza divina, manancial que garante sua prática entre os homens e de onde brotam todas as demais virtudes, sejam elas éticas, morais, espirituais. Por isso, o amor consegue chegar ao coração humano e realizar maravilhas. Shakespeare também entrou nessa seara quando, através dos personagens de Romeu & Julieta, sentenciou que “limites de pedra não podem conter o amor. E o que o amor pode fazer, isso o amor ousa fazer”.

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