quinta-feira, 27 de maio de 2010

“Doadores” para “Amigos de Iberê” são todos fornecedores do Estado

Roberto Guedes
Por e-mail

Tende a ganhar grande amplitude e entrar em outras searas, como a da defesa do patrimônio público, o procedimento administrativo que a Procuradoria Regional Eleitoral resolveu adotar na última terça-feira, 25, anteontem, para conferir se houve antecipação da campanha eleitoral na festa “Amigos de Iberê”, realizada no último domingo na casa de “shows” Vila Folia, em Parnamirim. Segundo fontes bem situadas junto ao Tribunal Regional Eleitoral, a princípio o ministério público queria verificar apenas a ocorrência da propaganda antecipada, que teria sido feita na ocasião até por um padre trazido para benzer a festa. A circulação em Natal de indagações sobre quem bancou a festa, porém, o fez passar a querer examinar também o custo da promoção e, principalmente, a origem do dinheiro que a bancou.
DORGIVAL E “BERÊ”
Há forte suspeita de que indiretamente o erário, de instância estadual e municipal, entrou na dança. Interessa ao ministério público conhecer bem as relações existentes entre o governo do Estado e as empresas que fizeram doações para o sucesso da “Amigos de Iberê” porque chegou ao seu conhecimento a informação de que a maioria delas é formada por vendedores de bens e serviços ao executivo estadual.
A logomarca desta situação, conforme conversa que operadores do direito mantiveram ontem com o “Jornal de Roberto Guedes Via e-mail”, seria o cantor e compositor Dorgival Dantas, que levou sua banda a se apresentar de graça na animação oferecida aos mais de treze mil norte-rio-grandenses presentes na Vila Folia.
Dorgival é velho conhecido da curiosidade que os quatro procuradores eleitorais baseados em Natal alimentam em relação ao eventual emprego de recursos públicos na montagem de candidaturas e palanques. Desde meados do primeiro semestre deste ano têm chegado informalmente à sede da Procuradoria, na avenida Deodoro, Cidade Alta, críticas ao fato de a banda liderada por Dorgival ter-se transformado em presença quase obrigatória, e sempre remunerada, em todas as solenidades de rua que contassem com a presença de Iberê, ainda quando este era vice-governador.
Bem antes de ele tomar posse como governante efetivo, no final de abril, em decorrência da desincompatibilização da então governadora Wilma de Faria para se candidatar ao Senado, pelo partido de ambos, o PSB, a maior característica desses eventos era a interpretação, por Dorgival, de uma música cujo refrão repete “Berê”.
Quando o privilégio da participação presencial do cantor e compositor se mostrava impossível, a música que o vincula ao nome de Iberê era interpretada por outro conjunto que tinha lugar ainda mais cativo nos palanques governamentais, a banda “Cavaleiros do Forró”. O proprietário desta, empresário Alexsandro Melo, o “Padang”, também diretor do América Futebol Clube, chegou a comprar um helicóptero, segundo consta, para transportar o Governador durante a campanha eleitoral propriamente dita, como demonstração de gratidão pelos ganhos que a contração da banda lhe proporcionou em pouco tempo.
Adversários de Iberê e Wilma quiseram que o ministério público representasse contra os dois pelo fato de o Estado patrocinar uma tentativa continuada de fazer o povo assimilar o nome e a imagem do futuro candidato a governador através da utilização deste refrão.
“IBERETION”
Na festa de domingo, Dorgival avançou um pouco mais, ao estrear a apresentação de uma versão da música “Rebolation”, sucesso na voz de um grupo baiano, modificada com a substituição da palavra chave por “Iberetion”. A criatividade faria parte do acordo com os responsáveis pela festa, não necessariamente seus custeadores.
Organizada por um grupo em que se destacavam empresário Luiz Antônio Farias, o “Tomba”, ex-prefeito de Santa Cruz, médico Jaime Calado, prefeito de São Gonçalo do Amarante, dentista Cláudio Porpino, ex-deputado em pré-campanha para retornar à Assembléia Legislativa, e pelo administrador de empresas Luiz Cláudio de Souza, o “Chope”, ex-presidente do Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), a festa ensejou despesas difíceis de calcular.
Realizada a portas abertas, sem que nenhum comensal custeasse suas despesas, foi pródiga na distribuição de bebidas, como mostraram os jornais de Natal. O almoço em si foi servido por uma das casas de recepções mais caras de Natal, e ninguém sabe quanto custariam, se efetivamente pagos pelos promotores, os cachês dos artistas que ali se apresentaram. Aliás, há contas menores que se mostram difíceis de fazer, como, por exemplo, a relativa ao custo da segurança. Era enorme o número de seguranças privados em atuação no “Vila Folia”. Estes são os custos diretos que todo evento motiva.
A basófia com que alguns prefeitos se jactaram de ter encaminhado para a “Via Folia” mais eleitores do que os outros chamou atenção também para um custo indireto, que poderia ter sido assumido pelos promotores da festa se os governantes municipais lhes repassassem os custos. É o custo dos muitos ônibus que os burgomestres alugaram para levar e trazer seus entre as cidades de origem e o “Vila Folia”.

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