quinta-feira, 19 de maio de 2011

Ações pela metade


Paulo Correia
Jornalista


paulo.correia@r7.com


Esses dias foi divulgado pela imprensa que as verbas para o aparelhamento e para as ações da Polícia Federal foram cortadas em grande parte pelo Governo Dilma. Segundo os jornais, o orçamento do Fundo para Aparelhamento e Operacionalização das Atividades-fim da Polícia Federal (Funapol) sofreu um corte de 28% em cima da previsão orçamentária para este ano, que era de R$ 479 milhões. Na verba destinada exclusivamente ao custeio da PF o corte foi de 5% de um total previsto de R$ 375 milhões.
Lendo isso, fiquei pensando sobre como as investigações e os projetos da Polícia Federal poderão sofrer abalos. Investigações que estão sendo feitas com esmero pelos homens da Lei e, que poderão colocar na cadeia, traficantes de drogas e corruptos em geral.
Para vocês terem uma idéia, somando as duas unidades orçamentárias, a PF sofreu redução de um terço de seu orçamento, o que representa cerca de R$ 281 milhões por ano. Além da redução do orçamento, foram suspensos os concursos programados para cargos na força policial.
Não acredito que existam outros interesses por trás desses cortes. Tenho ciência das dificuldades financeiras do nosso Brasil velho de guerra. Mas deixar a Polícia Federal, uma das poucas instituições do país que ainda merecem o respeito da população, com verbas reduzidas para as suas ações é algo difícil de acreditar.
Nos periódicos, a informação que a Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) já contabilizou perdas para as operações Sentinela, que ocorre nas fronteiras do Brasil, e a Arca de Fogo, sobre o meio ambiente na Amazônia. Péssima notícia para o país, e ótima para os narcotraficantes, terroristas e políticos corruptos.
Depois dessa saraivada contra a PF, lembrei do livro O Infiltrado. Lançado nos Estados Unidos em 2009 e por aqui em 2010, e escrito por Robert Mazur, agente da Receita Federal daquele país, o calhamaço relata toda a trajetória de um oficial disfarçado nas fileiras da lavagem de dinheiro e do tráfico de drogas do cartel de Medelín durante a década de 1980.
Na publicação, Mazur detalha todo o processo que levou os grandes barões da cocaína e os banqueiros corruptos do BCCI para os tribunais. Também explica no livro a vida altamente perigosa e escorregadia de um infiltrado no submundo. Mas o que tem de comum nessa história contada no livro e a falta de verbas para os trabalhos da Polícia Federal no Brasil é o descaso dos governantes com os serviços de inteligência de suas forças policiais.
No O Infiltrado, Robert Mazur explica que muitas das etapas da operação que colocou diversos bandidos atrás das grades somente foi possível por conta do dinheiro tirado do bolso do autor e de outros agentes envolvidos no caso. Se dependesse de Washington, a operação teria sido abortada no início ou terminaria com um salto negativo, com a morte de Mazur ou de outra pessoa de sua equipe.
Por aqui, os federais seguem organizando as suas operações secretas e tentando o diálogo com Brasília. Um diálogo que poderia ser melhor orquestrado. Infelizmente isso é dificultado por conta desses cortes.
Uma pena que vivemos em uma época que valoriza as ações rápidas e violentas, e não o trabalho minucioso de investigação policial.
Quando vai mudar?

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