terça-feira, 27 de julho de 2010

20 anos sem Glênio Sá

Jana Sá
Jornalista

A exemplo do 26 de julho de 1990, a cidade amanheceu triste, com seu brilho ofuscado. Parece chorar com a lembrança da dor sentida pelo povo brasileiro, em especial, os norte-rio-grandenses, quando um triste e mal explicado acidente automobilístico interrompeu a longa jornada de luta travada durante 24 anos por Glênio Sá. Também, pudera, ainda hoje sente a lacuna deixada por este combatente, que na luta por uma sociedade democrática e livre, colocou à disposição toda a sua sabedoria e experiência.

Glênio não apresenta nenhum traço espetacular. A imagem de sua coragem, paciência, carinho e compreensão se contrapõem a dos seres especiais, que se colocam acima das multidões apresentadas como ignorantes e indefesas, superam os limites impostos pelas leis da natureza, operam prodígios por sua força superior e fazem valer a ordem e a justiça. A lembrança que guardo do pai doce, calmo e calado nem de longe se assemelha à de um herói burguês, que não chora, não ri, não ama, nem amigos nem família fazem parte de suas preocupações.

Era um homem simples, como foi a sua vida, pois não se importava em abdicar das benesses de sua vida pessoal em prol da luta pela felicidade do povo e pela liberdade. Reconhecia as suas fraquezas e, na convivência com o povo e com seus camaradas, buscava a força.

Em sua ação consciente, sabia que ser comunista era uma opção cotidiana e não apenas um ato de proclamação solene e de comprometimento formal. Era antes e acima de tudo uma transformação real e consciente nas idéias e práticas, no comportamento ideológico e moral, na elevação do nível de compreensão política e das aptidões práticas, no desempenho das atividades partidárias e das responsabilidades.

Tenho dele o retrato do heroísmo do povo que, anonimamente, faz a história, sem pretensões e muitas vezes sem ter plena consciência do seu valor e da proeza de construir e mudar o mundo.

Hoje, compartilho com os que conheceram o meu pai, com todos os brasileiros patriotas, especialmente com os potiguares, o sentimento da saudade, do reconhecimento e da falta de alguém que, para mim, ainda é vida e que jamais partiu.

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