segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Los Angeles é aqui

Paulo Correia
Jornalista /
paulo.correia@r7.com


    Esses dias, zapeando a TV, parei numa entrevista com a talentosa Nana Moraes, fotógrafa das mais importantes publicações de moda do Brasil. Nessa entrevista, não lembro em qual canal, ela discutia com o apresentador sobre o mundo da publicidade e os novos meios tecnológicos para a fotografia. Mais a frente, ela foi questionada sobre os paparazzis, esses profissionais que vivem de tirar fotos nada corretas de astros e estrelas do show bizz. Ainda falou sobre a proliferação dessas revistas de fofocas e sites especializados no meio artístico.
    Pegando a deixa de Nana, fiquei pensando sobre esse tema: as revistas de futricas e a vida das celebridades no Brasil. Realmente, de uns tempos para cá a televisão no país deu saltos de gigante, passando de um meio de acesso restrito a poucas pessoas a um veículo aglutinador no território inteiro. E se até a década de 1960 o rádio era a febre de todos, com os seus ídolos e publicações voltadas para eles, nos tempos de hoje, a televisão puxou essa febre. Com uma força um milhão de vezes maior. Se a rádio Mayrink Veiga tinha Carmen Miranda nos anos de 1930, a Rede Globo tem Juliana Paes nos tempos de Internet a jato.
    No campo das revistas sobre essa temática existe uma infinidade. Da clássica Contigo, até as mais recentes Conta Mais e Ana Maria. E só citei três!
    Essas publicações são feras em comprar e divulgar as fotos dos paparazzis citados lá em cima por Nana Moraes. Do fim de semana de Cauã Reymond e Grazi Massafera, passando pelo inferno astral do ator Fábio Assunção e as drogas, tudo está documentado nas páginas das revistas.
    Mais a frente, uma verdadeira massa de leitores puxa a sua revista da banca mais próxima, sempre a menos de 2 reais e parte para um completo deleite nas suas casas vendo a novela das oito.
    Imagine o faturamento dessas publicações? E acrescente que todas têm páginas na Internet. Deve ser uma maravilha. Os Civita devem agradecer muito as Organizações Globo.
    E não falei da Record, Band, SBT, que com total certeza contabilizam seus telespectadores. Mas nenhuma dessas tem o poderio de fogo da Rede Globo. Mas nem de longe.
    A família Marinho, há muitos anos, descobriu que o que marca suas novelas é uma boa história, um bom elenco, uma boa equipe técnica e mais: um bom marketing com o seu casting de atores. A Globo descobriu, e muito antes de todas as outras, que o público de televisão gosta de atores de... Cinema. Eles não desejam atores que podem ser vistos tomando uma cervejinha ali, arrumando o carro na oficina ali do lado. O público, na sua esmagadora maioria, deseja astros no sentido maior da palavra. As pessoas querem heróis intocáveis, com brilho maior que tudo e todos. E aonde a TV Globo foi buscar essa áurea para os seus: nas terras de Hollywood.
    E aonde essas novas revistas de fofocas foram buscar seu novo método de ataque: nas publicações de Los Angeles. Em Revistas como a Ok! Weekly e a Life & Style Weekly, que tem tiragens semanais de dar inveja aos grandes jornais.
    O método: nada daquela felicidade e ingenuidade de Caras, com fotos previamente escolhidas pelos fotografados. Nada disso. Nessas folhas de fofocas, o que interessa é a última briga de Fulano com a Maria chuteira, do casamento ultra-secreto de Beltrano com a Miss – segura.
    Nesse imbróglio todo, de conexões Los Angeles – Miami – Rio de Janeiro, o que me vem à cabeça é o que escreveu François Silvestre no seu livro As Alças de Agave, quando ele diz que a mídia engole e defeca ela própria a todo instante. Porque, se pararmos para pensar, descobriremos que o público quer atores e celebridades como deuses, como seres de outro mundo. Mas também desejam os passos em falso desses mesmos deuses. Desejam ler nas revistas de dois reais a vida “normal” desses deuses.
    Tempos modernos.

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