segunda-feira, 27 de setembro de 2010

A FLOR DO ESPIA-CAMINHO – IMORAL ?

Ailton Salviano
Geólogo e Jornalista

Neste início de Primavera, a estação das flores, uma pequena história de uma curiosa flor. A primeira referência à flor da planta espia-caminho, segundo Câmara Cascudo, foi feita pelo escritor paraibano José Américo de Almeida em seu livro “A Bagaceira” publicado em 1928. Tal registro fala da aversão feminina por essa flor leguminosa de ocorrência tão comum às margens dos antigos caminhos, densos em nutrientes oriundos da urina e fezes de animais e de restos de comida jogados pelos transeuntes.
Em seu livro “Coisas que o povo diz”, mestre Cascudo fala dessa anacrônica ojeriza feminina quando afirma: “elas (as mulheres do povo) arrancam ou destroem as flores do espia-caminho por julgarem-nas imoral”. O motivo é mais que banal. Trata-se da forma dessa flor que em muito se assemelha ao órgão genital feminino.
Classificada como uma leguminosa do gênero clitória, a planta também é conhecida vulgarmente como erva mijona e cascavel. Porém, a sua denominação popular é que causava vergonha às mulheres - “boceta-de-negra”. Na descrição morfológica de Cascudo, “as pétalas formam os grandes lábios e, no centro, os estames e androceu, guardados pela carena, que os envolve, dá a parecença de um clitóris; daí o seu gênero...”.

Um comentário:

  1. Gostei do blog.
    Li recentemente a obra aqui citada. O emérito folclorista brasileiro é mesmo impagável.
    E cá entre nós, que posso eu ter contra esta (ou outra) flor?

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