segunda-feira, 11 de julho de 2011

ESTENDER AS MÃOS

Públio José – jornalista
(publiojose@gmail.com)

                        O dicionário tem a mão como órgão terminal do braço e de fundamental importância para a sobrevivência e desenvolvimento do homem no decorrer da sua história. A mão é também um dos principais órgãos do corpo humano pela sua agilidade e utilidade para segurar, tatear e efetuar todo tipo de trabalho. Além disso, a mão tem servido, através dos tempos, de símbolo a todo tipo de ato, gesto e expressão com as mais diversas finalidades. A literatura mundial, por sua vez, tem designado à mão uma série infindável de funções e atribuições dentro do contexto de dramaticidade e simbologia exigidas na construção dos mais diversos personagens. No teatro, por exemplo, o texto flui com mais naturalidade na medida em que o intérprete faz bom uso das mãos. Na escrita nem precisa se ressaltar o seu valor fundamental. Enfim, a mão é o membro mais utilizado entre todos os que compõem o corpo humano.
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                        São também notórios os significados dos inúmeros gestos que envolvem as mãos e o que têm representado ao longo da história. Na antiguidade – e ainda hoje em comunidades mais tradicionais – elas falam por si. E, sem a necessidade de palavras, emitem os mais diferentes sinais. A lavagem das mãos, por exemplo, era sinal de inocência; segurar a mão direita de alguém significava dar-lhe apoio; postar-se à mão direita de outro era convencionado como dar proteção ou receber honra e poder da parte da pessoa ao lado; apoiar-se na mão de alguém consignava demonstração de familiaridade ou de superioridade; dar a mão à outra pessoa assumia postura de submissão; derramar água nas mãos do outro indicava serviço prestado; beijar a mão de alguém significava gesto de homenagem, respeito e reverente submissão; decepar a mão tinha a finalidade de expressar um notável gesto de autoflagelação...
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                        A mão aberta já indicava sentimento de generosidade, enquanto a mão fechada representava sinal de mesquinhez; o polegar voltado para cima significava aprovação e o contrário, o polegar para baixo, desaprovação. São incontáveis, enfim, as maneiras, modos e tipos de utilização que o homem tem encontrado para as mãos no transcorrer do tempo. Entretanto, no tocante ao relacionamento humano, um dos atos mais nobres e marcantes ligados às mãos é o de estendê-las em direção a alguém. Significa uma postura de total envolvimento nas carências do outro, revertendo, em favor do próximo, ações que envolvem solidariedade, proteção, misericórdia, fraternidade, compaixão. Estender as mãos é um gesto de importância transcendental. Que, em determinados momentos, na vida de alguém, pode significar o estabelecimento da diferença entre as alegres cores da vida e o triste negrume da morte.    
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                        Entre o calmo remanso de paz e as ondas encapeladas do desespero, da aflição, da angústia. Por sinal, nos dias atuais, vê-se a humanidade dividida entre dois tipos de pessoas: as que (ainda) sabem estendê-las em benefício de alguém e as demais. Estas, embutidas num casulo de egoísmo, egocentrismo e individualidade, se negam a dar às suas mãos uma das missões mais nobres e prazerosas existentes no contexto da convivência entre os homens. Já aquelas dispostas a estender suas mãos estão, em vida, duplamente beneficiadas. Em primeiro lugar, pelo fato de viverem a condição de fazer pelo próximo – e não de receber (o outro, ao contrário, se vê inferiorizado na desconfortável posição de ser ajudado). E também pela constatação de que, ao estender as mãos ao necessitado, têm o coração povoado por nobres motivações e pelo mais puro sentimento: o do amor. Sacou? Estender as mãos... Ah, que bela empreitada!   

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