domingo, 24 de março de 2013

Já não ouvimos esses acordes


Augusto Coelho Leal
Engenheiro

Natal para mim deixou de ser aquela cidade poema.  O ar bucólico desapareceu, os edifícios tomaram os lugares das residências, deixamos de ser aquela cidadezinha quase interiorana, aquela cidade dos namorados, dos brinquedos na rua descalça, das serestas pela madruga, de paz e irmandade entre as famílias.
 “Olho a rosa na janela, sonho um sonho pequenino/Se eu pudesse ser menino. eu roubava esta rosa/E ofertava toda prosa, a primeira namorada/E nesse pouco ou quase nada/ Eu dizia o meu amor”. Não ouvimos mais esses acordes pelas madrugadas silenciosas, onde os sons de um pinho acompanhado pela voz de um seresteiro apaixonado ouviam-se pelas madrugadas, as moças acordavam para ouvir os seus amados, pelas brechas das janelas.                
Não se ouve mais a voz e o violão de Cezimar Borges cantando os sucessos de Altemar Dutra, Guaracy Picado, Gil Barbosa, José Leal, Antonio Sete Cordas, Fernando e Carlos Lira, Aldair Soares (Pau de Arara), Vicente Barbosa, Eimar Vilar, Jahyr Navarro, Airton Ramalho, Salvador Galego, Efraim e outros que amavam as madrugadas. Muitos já não estão mais aqui, mas as vozes e seus acordes ficaram pelas madrugadas.                
Lembro-me bem das serestas do veraneio na Praia da Redinha todas as madrugadas. A energia elétrica desligava ás dez horas da noite e um pouco antes, as moças saiam das reuniões ou namoros no clube, e se recolhiam em suas residências. A rapaziada se dirigia ao bar de Geraldo e Dalila ou de Dona Severina e ali ficava tomando uma e esperando a madrugada chegar, para despertar com belos acordes as suas amadas, e até se possível, dentro do roteiro ofertar uma rosa.                
“Um namoro acabado, ou uma briga mais séria, o rapaz apaixonado corria a procura de um violão e um seresteiro, e quando menos esperasse a moça, nas primeiras horas do dia, ouvia –” Ninguém me ama/ Ninguém me quer/Ninguém me chama/De meu amor.  Ficava acordada e muitas vezes pensava com ela mesma, ou comentava com uma amiga ou uma irmã – Tadinho está sofrendo tanto! No outro dia, na hora do banho de mar ou nas reuniões no Ridinha Clube (era assim mesmo o nome do clube, Ridinha com “i”) o namoro estava renovado.
Quase não havia bandidos, podíamos andar pelas madrugadas levando o nosso violão, e nessas andanças tinha um companheiro inseparável, Jovelino Marques Campos. Era tranquilo, e quando não havia seresta programada, muitas vezes visitávamos os bares noturnos para lá cantarolar, entre eles, a Confeitaria Delícia, Acácia Bar, Chico Chopp, Dia e Noite, Confeitaria Atheneu, Iara Bar, Bar do Candão, O feijão Verde, Café Nice, O Teco Teco, O Postinho, Bar da Pitombeira, A Palhoça e outros.                
Os edifícios de grandes alturas, já não permitem mais este tipo de comportamento, as baladas noturnas, as músicas panks, onde as mulheres fazem questão de destacar as suas nádegas, como se estivesse em ato sexual, os forrós e músicas bregas com letras sem nenhum conteúdo artístico, apenas servem, para aumentar a baixaria que mudaram completamente aqueles hábitos que hoje desapareceram. 
O romantismo da minha geração jovem era diferente, a Lua era dos namorados. Hoje não se canta mais a beleza amorosa da lua. “Lua bonita/Se tu não fosse casada/Eu pegava uma escada/Pra no céu ir te beijar/E se juntasse seu frio com meu calor/Pedia a Nosso Senhor/Pra contigo casar.                
O tempo passou, ficou a lembrança de velhos e bons costumes, de velhos e bons amigos, muitos deles presentes e muitos deles ausentes. Disse Fernando Pessoa “Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidades às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens”.

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