domingo, 25 de agosto de 2013

Feijão com gosto de ovos

Fernando Lins

Menino, me lembrei por um momento do tempo em que chegávamos em casa vindo da casa da namorada, ou mesmo dos corriqueiros passeios noturnos,  à pé mesmo, pelo bairro; geralmente acompanhado de um ou dois amigos.
Ainda havia pessoas sentadas em cadeiras, tamboretes e até mesmo na calçada nua e crua, como se dizia; há uma aura nostálgica, e em minha mente passa como se fosse um filme em preto e branco.
 Naquela época tudo era mais valorizado, uma camisa nova, um perfume ou um tênis, tinham um valor e uma importância tão grandes que eram motivos de cobiça entre irmãos e ate é mesmo dos amigos, os quais não raramente pediam emprestados (às vezes emprestado para sempre), para fazer uma presença a um "affair" qualquer.
Pois bem, como eu ia dizendo, ao chegar a nossa casa, a fome era grande e em uma casa onde eram servidas todos os dias, refeições para vinte e tantas pessoas, não era fácil encontrar comida pronta às altas horas da noite.
Então era hora de fazer um pequeno assalto a geladeira e a dispensa, normalmente ligávamos a TV e um de nós ia fazer uma pesquisa alimentícia, se não encontrássemos ovos, tudo bem, tendo feijão já era o suficiente,  como dizia Tio Naquinho.
Era só picar umas cebolas e fritá-las  em uma frigideira com manteiga e quando começavam a ficar douradas era hora de adicionar o feijão, não esquecendo de um pouco de farinha e toda sorte de temperos disponíveis na cozinha. E esse groló foi batizado “Mutreta”; obviamente que tudo isso era regado a suco de manga, jenipapo ou qualquer outra fruta do nosso farto pomar do quintal.
E quer saber? 
Ficava realmente com gosto de ovos, até o efeito era real, pois numa casa com tantas pessoas, era comum dormir até cinco de nós em beliches e dá pra imaginar o que essa comida produzia, tanto no aspecto sonoro quanto no olfativo.
Ah! E nada disso afetava nossa saúde, aos quinze, dezoito anos, éramos de FERRO.    
Bons tempos.

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