segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Poeta de concreto

Arquiteto do Estádio Machadão, Moacyr Gomes é mais do que o criador do estádio que fez História no Rio Grande do Norte. Ele é a própria História
Larissa Moura
Estudante de jornalismo
Texto e foto

Recebida por Laura e Guga, um simpático casal de "Yorkshires", atravessei um estreito jardim onde três grandes e alvos gansos me encaravam sem cessar. Entrei num pequeno ateliê, ao lado da garagem da casa, que me parecia acomodar um engenheiro cheio de trabalho. A meu lado, estava ele. Moacyr Gomes da costa, que aos 84 anos, possui grandes obras, grandes histórias e um grande coração.

Filho de natalenses que moravam e se conheceram em Caicó, Lígia de Miranda Gomes, que acompanhava seu pai, tesoureiro da Receita Estadual, José Gomes da Costa, advogado, então promotor público na cidade. Aos dois meses de vida, mudou-se para a capital com os pais, onde estudou o ginásio e trabalhou com os soldados americanos na Base Naval de Natal, a margem do rio Potengi, durante a 2ª Guerra Mundial.

Em 1946, no dia de Reis, segundo o calendário cristão, o pai, aflito, deixa Moacyr no cais do porto, onde embarcaria para o Rio de Janeiro para viver com o tio, então professor engenharia da Pontifícia Universidade Católica. Com muito sacrifício, seu José conseguira 500 mil réis para a passagem do primogênito. E, com a ajuda de amigos da família, Moacyr fora de navio para a cidade maravilhosa onde se formou em arquitetura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Meu tio me fez um teste vocacional e disse ‘olha, você até poderá ser um bom engenheiro, mas tem mais vocação para arquiteto’. Eu tive duas universidades. A UFRJ, que me deu o diploma. E a do meu tio, que me deu a experiência necessária para ser o que sou hoje”.

Explicando-me sobre a diferença entre um arquiteto e um engenheiro, ele se empolga. Como uma régua de esquadros, desenha com as mãos enquanto explica a técnica que se exige a um engenheiro, além do acompanhamento de todas as etapas de construção ou reabilitação do espaço. Já o arquiteto, uma espécie de designer, cuida da idéia, inspiração do projeto, organização e estética. Quando o questiono sobre como acontece à criação de suas obras, não hesita: “É uma coisa muito subjetiva, que depende muito da inspiração. É como diz o grande poeta Noel Rosa ‘ninguém aprende samba no colégio’, seu eu sou sambista é porque eu nasci sambista, assim como o arquiteto, já nasce arquiteto”.

Traço firme, conta que hoje não consegue parar de trabalhar. Quando entrou no mercado de trabalho, trabalhava cerca de 12 horas por dia. Hoje, mais de 50 anos depois, garante trabalhar dez. Mas, já tirou seu nome da lista telefônica. Não precisa mais de vitrine, as pessoas já sabem quem ele é, e os amigos, onde o encontrar. “Hoje me sinto muito mais lúcido e seguro do que há 40 anos. Esse trabalho pra mim hoje é muito mais uma terapia ocupacional, entende?”. Perguntou.

Descobri assim um arquiteto amante de música e poesia. Sempre tem em mente, mesmo não lembrando o nome do autor, uma frase de impacto para completar as suas. No ultimo dia das mães, escolhera uma poesia de Carlos Drumond de Andrade para prestar uma homenagem no túmulo da mãe.  Mas, possui um escritor preferido: Augusto dos Anjos, poeta paraibano, conhecido como um dos mais críticos de seu tempo. “Augusto foi um poeta que chamam como poeta do amor ou poeta da tragédia, mas para mim ele é de uma perfeição... Até para escrever um fato trágico ele fazia com tal perfeição que você não encontra a tragédia na história, entende?” Pergunta entre risos.

Os esportistas de Natal diziam que Moacyr iria fazer o projeto do complexo esportivo de Natal dar certo porque o governador Dinarte Mariz o tratava como um filho. Assim ele conversou com ele sobre a possibilidade de construção de um grande complexo esportivo em Natal, já que os ginásios não atendiam mais a demanda da cidade. Mas, ainda precisavam da doação de um terreno. No local onde foi construído o Machadão existia apenas mato, algumas granjas e 33 poços de abastecimento de água da cidade. Moacyr se encaminhou para o Rio de Janeiro e conseguiu voltar respaldado com uma declaração do  doutor Saturnino de Brito, dizendo que nada tinha a se opor quanto a doação do terreno. E foi dado o primeiro passo para a construção do estádio. “Depois, terminei o projeto e comecei com Agnelo, Ernandes Silveira, João Machado... Foi uma luta que durou vários anos, mas que deu certo.”

Depois de formado, Dinarte Mariz, governador do Rio Grande do Norte na época, o trouxe pra fazer o projeto do estádio. No contrato, ficou definido que ele passaria pelo menos 30 dias em Natal a cada semestre. Conta que o governador sempre o apresentava aos amigos da região do Seridó, pois sabia que ele era de Caicó. “Até que um dia ele me convenceu, eu vim pra cá, casei, tive meus filhos e não sai mais. O motivo de eu vir pra Natal era maior do que o amor que eu tinha pelo Rio de Janeiro”, confessou.

Com quase quarenta anos de idade e três noivados mal sucedidos, Moacyr se dizia definir como uma semente que iria apodrecer sem nunca produzir nada. Mesmo assim não havia queixa das moças. “Teriam sido três esposas fantásticas, não tenha dúvida. O erro era meu. Mas, eu não era um mau sujeito, era apenas um desarrumado. Minha vida pessoal era muito indefinida”, relatou.  "Até que, numa noite de verão, na saída do Cinema Nordeste, me passa uma mocinha de uns 20 anos. Uma menina. Olhou pra mim, insistentemente, e eu, claro, achei ela uma figura interessante e retribuí. Ela pegou um bondinho, saltou lá perto do Hospital das Clínicas... Eu também saltei e a abordei. Logo começamos a namorar por telefone. E estava escrito que tinha que ser aquela porque tudo contribuiu pra que fosse ela. E hoje eu vi que ir atrás daquele bondinho foi à melhor coisa que eu fiz na minha vida”, alegrou-se.

Dona Íris Silveira Gomes da Costa, dona de casa, é o maior motivo de preocupação de seu Moacyr hoje. Com pouco mais de 60 anos ela começa a sentir as primeiras sequelas do tempo, como constantes dores na coluna. “Aí eu não durmo”, ri o marido, ao lado da foto da esposa em um dos seus últimos aniversários. Como estava “atrasado”, logo vieram três filhos. José Neto, Flávio, Eduardo, e quinze anos depois, Maria da Graça. Nenhum deles seguiu arquitetura ou engenharia. Dois são advogados, o outro comerciante, e a caçula, se forma em psicologia em 2011.

E assim como seu casamento, o Machadão foi um sucesso total. Ele passou a ser o ponto de referencia da cidade, toda a sociedade se deslocava pra lá. “Era o point da cidade”, diz, cheio de orgulho. “Nos jogos de sábado e domingo até as senhoras iam para o estádio. Pela primeira vez na vida eu vi mulheres num campo de futebol em Natal. Elas traziam suas toaletes bonitas para desfilar. Era uma época memorável”, lembra com brilho no olhar.

Em 1992, o Machadão ganha um irmão mais novo, o Machadinho, ginásio que já fazia parte do projeto inicial, mas que não saiu bem como planejado. “Quanto eu fiz o projeto original era um complexo olímpico. Era um estádio de futebol com ginásio, piscina olímpica, alojamento... Uma mini-cidade olímpica. Então, por conta desse projeto eu fui chamado pela prefeita da época para fazer a segunda peça, o Ginásio Machadinho. Só que eu não fiz como eu planejava, porque já tinham criado aquele kartódromo ali atrás do estádio. Assim, para não arranjar problema, arrumei um cantinho ali do outro lado> Não fiquei satisfeito, mas de qualquer maneira era um bom ginásio. Só não estava dentro da minha vontade", completou.

A paixão pelo futebol pode ser hereditária. Talvez uma herança do pai, o advogado José Gomes, também ex-jogador e ex-presidente do América de Natal. Jogando futebol quando mais jovem, um amigo que jogava pelo Flamengo no Rio de Janeiro o convidou para tentar uma vaga no time, mas apesar da chance, constatou: “Eu sou um rapaz pobre, vim aqui pra poder arranjar um emprego e poder me sustentar. Eu tenho um tio que me ajuda e me deu um emprego, mas é com esse emprego que eu tenho que pagar meu cursinho, me sustentar... No futebol, até eu me tornar um jogador de expressão e o clube me passar a me pagar um salário bom, eu já perdi minha oportunidade de estudar.ou eu faço uma coisa ou faço outra.” Foi aí que Moacyr conta ter chegado a conclusão do destino de sua carreira. Ele viraria um arquiteto especializado em equipamentos para futebol. “Eu pensei assim: já que eu não vou jogar, eu vou fazer um palco para os caras jogarem”, sorriu.

Quando estava no meio do meu curso, ainda apaixonado por futebol, o maracanã estava em fase de acabamento para a copa do mundo de 1950. Com as obras atrasadas, o acesso a obra era totalmente restrito aos profissionais envolvidos. Mas, curiosos e sabendo que um de seus professores, Pedro Paulo de Melo Bastos, era arquiteto do maracanã, pediu permissão para acompanhá-lo num dia de trabalho. E assim foi, logo após a aula. “Ele me botou dentro do carro e me levou. Lá ele dedicou mais de uma hora pra me explicar tudo que estava sendo feito. E ainda me deu uma pilha de apostilhas sobre o assunto, onde detalhava como eram feitas as medidas, o escoamento de tubo, a acústica, enfim, me deu um mestrado”, contou. Coincidentemente, no ultimo ano de faculdade o mesmo professor lhe apareceu como professor orientador para o projeto de conclusão de curso.

Ao reconhecê-lo, disse:

- Bom, já que você demonstrou tanto interesse em arquitetura esportiva vou lhe dar uma sugestão: faça seu trabalho em cima de um complexo dedicado ao esporte - de preferência olímpico. De onde você é?

- Sou de natal, disse.

- Quantos habitantes tem por lá?

- Acredito que 150 a 200 mil habitantes

Naquele momento o professor já lhe deu a primeira idéia do machadão: “Então faça um estágio para 50 mil pessoas”. Foram 12 dias de trabalho, a cada etapa entregue, o professor botava o papel na mesa, rubricava e grampeava. No fim do prazo o projeto estava pronto. Pedro Paulo, o professor, parou e disse: “Mas rapaz, que coisa linda”.Projeto aprovado com a nota máxima. E na ultima aula ele pediu pra que o autor explicasse para toda a turma a inspiração de engenhoso projeto. O que lhes rendeu a seguinte explicação de Moacyr:

“Em primeiro lugar, eu não fiz esse projeto como arquiteto. Eu fiz como torcedor. Daí a razão dele ser estranho. O torcedor não gosta de sentar nas cabeceiras, ele gosta de sentar nas laterais, então partindo dessa premissa, projetei uma estádio que tivesse uma grande quantidade de cadeiras de um lado e do outro, que ia diminuindo na medida que eu fosse fazer a curva. Ai o que eu fiz: peguei quatro retângulos, dois maiores e dois menos e juntei. Ficou medíocre, sem expressão. Ai eu juntei minha idéia através de uma forma geométrica contínua e escrevi uma elipse falsa dentro de um círculo. Ou seja, as arquibancadas seguem o desenho de uma elipse – que é um ovo – mas ela é limitada por um círculo. A elipse tem quatro raios, o círculo só tem um (o centro), então na medida que cada raio da elipse se encontrava com o raio do círculo, morria um degrau. E o segundo morria mais á frente", me explica facilmente, como quem já contara essa história por mais de meio século.

Logo o professor lhe retorna:

- Mas rapaz, o ovo de Colombo. Muito bem, meus parabéns. Se um dia você tiver a oportunidade de desenvolver um projeto de um estádio, não esqueça de desenvolver essa forma.

No jogo inaugural do Machadão, não esqueceu de tentar convidá-lo como hospede de honra para que pudesse estar presente ao evento. Ligou para um colega do Rio de Janeiro pedindo notícias do professor, mas ele já não estava mais lá. Morrera meses antes. Não pôde comparecer.

Inaugurado o estádio no dia 04 de junho de 1972, os engenheiros envolvidos no projeto do Machadão trabalharam na véspera até as duas horas da madrugada. Havia um torneio pela manhã. Vinha a Seleção Olímpica Brasileira jogar contra o Vasco da Gama. O jogo de fundo seria o ABC e o América, os dois principais times da cidade. "Então, toda a turma da engenharia estava lá preparando os últimos detalhes da festa de logo mais", relatou. “De duas horas da madrugada só tinha eu, outro e engenheiro e o vigia. Na hora da gente ir pra casa chegou um caminhão com uns móveis para entrega no vestiário dos atletas e não tinha ninguém pra descarregar. Tirei a camisa, meu colega também, e fomos carregar o mobiliário pra dentro do vestiário dos atletas para que no outro dia estivesse tudo arrumadinho, tudo no lugar”, contou.

E essa somatória de emoções se estendeu no dia seguinte, 04 de julho de 1972, data de inauguração do estádio João Cláudio de Vasconcelos Machado. É tanto que às sete horas da manhã Moacyr já estava lá, na subestação, testando se os refletores estavam funcionando. “Saí de lá meio-dia, peguei minha mulher, comi qualquer coisa e voltei pro jogo. Quando eu cheguei no estádio , olhei os portões e vi uma multidão que eu nunca imaginei que ia ver. Encheu totalmente. Foi uma coisa emocionante, uma tarde bonita, toda a sociedade compareceu”. E daí em diante, deu-se início a uma nova etapa no futebol norteriograndense.

Cerca de dez ou 15 anos depois, ele pára de ser frequentador assíduo de jogos. Faltava-lhe companhia fraterna. No início os filhos queriam acompanhá-lo pra tomar refrigerante, comer bagana. Depois ficaram rapazes e os programas passaram a ser outros como praia, shopping, namorada... Restando ao pai coruja acompanhar os jogos na TV de casa. Mas, assim como ao criador, os anos também fizeram com que a solidão atingisse a criatura. Nas administrações que se sucederam, o Machadão foi sendo deixado de lado, foi se deteriorando. Nem a ultima reforma, em 2007, foi suficiente para livrá-lo do caminho do fim. De forma que 40 anos de História estão indo pelos ares.

Outras alternativas poderiam ser cogitadas para a Copa do Mundo de 2014, tais como transformar o Machadão num museu e escola de formação de atletas. O espaço poderia ser aproveitado pra colocar equipamentos de atletismo, algo já previsto em seu projeto. A pista de 400 metros, base do atletismo, só precisa ter expansão de mais duas raias porque hoje a regra olímpica exige oito, ao contrário das seis raias da época da construção do estádio. “Então ele poderia ter uma utilidade enorme que era pegar a juventude, tirar do meio da rua, tira-lo das drogas, e colocá-lo numa escola de formação de atletas. Não tinha que gastar mais nada, já estava pronto. Acho uma coisa insana você falar em progresso, derrubando uma coisa que você já tem. A não ser que fosse o único lugar, mas Natal tem 280km² será que você não encontra um lugar pra construir um ginásio?” Questiona o arquiteto, dessa vez sem brilho no olhar, poucas expressões corporais, apenas cansaço.

O estádio potiguar também corre sério risco de ser apenas mais um gasto público. Tomando como exemplo a experiência da África do Sul, cuja câmara dos vereadores da cidade de Cabo chegou a sugerir ao prefeito que mandasse desmontar o estádio, que saíria mais barato do que gastar uma verba anual enorme para conservá-lo, sem uso. No caso do Arena das Dunas, além da verba gasta para manutenção do estádio como no exemplo da Cidade de Cabo, a área onde é feita o estádio é constantemente alagada em dias de chuva, o que se complica ainda mais levando-se em conta que sua localização é uma das principais vias de acesso da cidade, um dos pontos mais conturbados do trânsito de Natal. "Hoje, um urbanista serio jamais faria um projeto deste porte naquele local. Aí o que estão fazendo? Estão complicando o problema, pra poder gastar no problema tentando resolver. Não era muito mais fácil você evitar o problema?” Protesta.

E é com esse intuito de protesto, indignação, que com algumas palavras agressivas Moacyr Gomes defende sua mais importante obra. Desde o processo de criação, a busca do terreno, até compor a equipe que o construiu. “E de repente, no apagar das minhas luzes, eu vejo que esse meu filho está no corredor da morte. Condenado sem direito a defesa. Para dar lugar a uma arena que dizem que vai transformar Natal na cidade mais fantástica do mundo, o que na verdade não vai acontecer, porque na África prometeram a mesma coisa e não aconteceu. Natal, Rio de Janeiro, Belo horizonte, todos estão caindo no mesmo conto do legado. O legado que eles vão deixar é só isso, muito dinheiro gasto, muita dívida, que vai sair do bolso da gente”.

Moacyr Gomes, desde que a demolição do Machadão foi cogitada, por muitas vezes apareceu na mídia destacando esses argumentos e tentando mobilizar a população contra a derrubada do que hoje, mais que um estádio de futebol, é um patrimônio publico e cultural para a História da capital potiguar. Vários amigos se juntaram à luta, mas o arquiteto, que até chegou a ter problemas de saúde com estresse causado pelos protestos, já se conformaram com a decisão das autoridades do Estado.

No início do nosso encontro uma das primeiras coisas que ele comentou sobre o Machadão foi: “Agora, quanto mais rápido demolirem, melhor. Acaba com essa minha aflição”. Hoje, prefere não se expor e não quer mais falar com a imprensa. Mas, a todo momento me dava conselhos sobre como ser uma boa jornalista.

“Tem muita coisa envolvida que você é muito novinha para tomar conhecimento agora, mas é bom ficar esperta! Ainda mais porque um dia você como jornalista vai precisar ter a sua própria opinião. Mas, no momento, não é bom encher sua cabeça com essas coisas, não. Porque uma criatura jovem que começa a ouvir essas coisas do lado sórdido da vida pode ir criando um desânimo na pessoa. Então, a gente tem que ir alertando o jovem aos poucos porque se você botar o olho direitinho no ser humano, você pede pra ir embora daqui. Não aguenta mais”, me alertou, desabafando.

Quebro o clima. E encontro de volta o brilho no olhar, a euforia nas mãos quando lhe pergunto qual sua obra preferida, hoje. “O pórtico da entrada da cidade, aquela estrela. Ela eu acho que como inspiração arquitetônica foi a melhor de todas. Mas, é a mais abandonada. Aquela vai cair qualquer dia desses na cabeça do povo porque não tem tratamento nenhum, está entregue as baratas”. Decepciona-se, mas continua “Aquela tem uma lógica interessante. Quando a prefeita me pediu que fizesse, Natal iria completar 400 anos, em 25 de dezembro de 1999. A intenção era construir um pórtico monumental pra comemorar a data. Foi a inspiração mais fácil de todas. Eu pensei “Natal se chama Natal porque ela foi fundada  na data do nascimento de Cristo, então nós temos uma relação com a data cristã. Partindo da história, houve o nascimento de Cristo, e os reis magos quando souberam da notícia seguiram a estrela de Belém. E foi assim que imaginei o desenho”, relatou.

"Em 2004, junto dos meus amigos arquitetos do Rio de Janeiro, comemoramos 50 anos de turma. Me telefonaram e exigiram que eu fosse para lá, para despedida dos colegas. Nas nossas bodas de ouro, só tinha metade da turma. O resto já tava velho ou morrendo. Então, foi nosso ultimo abraço. E nessa reunião, na sede do instituto da UFRJ, onde teve um almoço, um colega havia passado por Natal e, sem eu saber, tirou várias fotos do pórtico. No intervalo do almoço, projetaram-nas na parede. E ele começou:

- Passei por Natal, não sabia que Moacyr estava lá, vi esse pórtico, me apaixonei por ele, tirei foto, e depois é que eu soube que era de autoria do nosso colega que está aqui presente.

"Aí foram aqueles aplausos. Uma das maiores emoções que vivi nos últimos sete anos. Então, eu considero que na minha vida profissional, diante das próprias limitações que a vida me impôs, eu sou um vitorioso. Eu consegui fazer as coisas que eu gostaria de ter feito. Os outros dizem ‘esse cara é louco, parece que quer transformar o mundo.’ Por que não? Porque não eu? Porque não você ?”

Sobre um simpático e feliz senhor que, numa tarde de quarta-feira, se dispõe a ficar conversando com uma mocinha sobre a vida, só me resta encerrar este texto tal como lhe agrada . Seu poeta predileto, me empresta suas palavras:

O vencedor

Augusto dos Anjos

(...) Meu coração triunfava nas arenas.
Veio depois um domador de hienas
E outro mais, e, por fim, veio um atleta,

Vieram todos, por fim; ao todo, uns cem...
E não pôde domá-lo enfim ninguém,
Que ninguém doma um coração de poeta!

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