sexta-feira, 13 de julho de 2012

UMA CARTA, UM DESABAFO, UM REGISTRO DE UM EXÍLIO.



Brasil ano de 1971 período da ditadura militar. Um tempo cruel, pessoas que lutavam por liberdade de expressão desapareciam, eram torturadas, perseguidas, famílias destruídas. Muitas vítimas sobreviveram e contam o que presenciaram. Isolda, uma jovem voava para o Chile em busca de paz. Viver um amor. Não sabia o que iria passar naquele Chile vermelho.

Do Ventre da Cordilheira, uma carta para Yasmine. Um livro emocionante por sua sinceridade e angústia e que a História não pode esquecer. Será relançado dia 19, após 17 anos. A segunda edição vem com fotos inéditas e cartas do seu companheiro, Rubens Lemos, jornalista e exilado político. Comemorando 70 anos de vida, Isolda fala um pouco sobre o livro e dos momentos que passou.

Por que a vontade de escrever a carta?
Todo mundo sabia do contexto geral, mas não dos detalhes, da minha visão, precisava desabafar... Senti que havia chegado a hora e escrevi uma carta para minha filha Yasmine, quando ela fez 18 anos, foi um alívio poder contar coisas que eu, Rubens e Rubinho passamos. Nosso filho, com menos de dois anos.

Ouvi quando falavam de exilados 
perseguidos e mortos na 
fronteira. Eu não entendia aquela confusão. 
Seu pai se esforçava para me fazer feliz...
a paz que eu procurei quando segui 
viagem estava longe de encontrar 
naquele “Chile vermelho”. 

Sua narrativa é angustiada e forte, era o que sentia quando estava lá?
Sentia angústia, eu não entendia nada de política, fui para ficar ao lado do meu marido, do pai do meu filho, queria construir uma família e só voltar ao Brasil muito tempo depois, todos felizes, depois comecei a perceber a realidade. O governo de Allende ameaçado ,os socialistas não eram mais bem vindos . Engravidei de Yasmine , a situação cada vez pior , corríamos riscos .

No livro há vários trechos marcantes, entre eles o seu sequestro e prisão no Rio de Janeiro, naquele momento você pensou em tirar a própria vida?
Foi um dos piores momentos da minha vida, já era o ano de 1972, a polícia me informou que eu nunca mais iria ver Rubinho, minha cabeça girou, a gravidez já bem evidente,eu sabia que iria morrer, lembro que tracei todo o percurso de onde eu estava sentada, até a janela mais próxima, me jogaria com meu filho, não suportaria perdê-lo.

“ Ficamos muito tempo abraçados, os três.
Imprensando você na minha barriga...
eu não sabia das torturas, 
prisões das pessoas que chegavam 
de um país socialista. 
Era a ditadura de Médici". 

O que a fez desistir?
Entre o horror, desespero e o medo eu rezava o oficio de Nossa Senhora, não podia perder minha fé, sou devota dela, Deus e Nossa Senhora e amigos solidários nos salvaram.

Se o tempo voltasse, faria tudo de novo?
Por amor sim, de tudo que passamos, tivemos três filhos, três frutos de um amor forte e verdadeiro. Não me arrependo de nada . Nossa história é o nosso legado .

“ Éramos jovens, quentes, sonhadores e alegres, 
apesar das contigências...”

O que diria para nova geração?
Aproveitem a liberdade conquistada com sangue de forma responsável. Hoje todo mundo fala mal , critica , depois vai dormir tranquilo,é preciso saber que houve uma história com barbaridades , de pessoas que deram suas vidas para que hoje todas as pessoas falem , se expressem.

Gostaria de voltar ao Chile?
Não. Fui “convidada” a sair do país, fui deportada sem ter culpa de nada , impossível esquecer .

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