terça-feira, 4 de outubro de 2011

Uma corporação ferida de morte


Paulo Correia
Jornalista
paulo.correia@r7.com

A notícia que o ex-comandante geral da Polícia Militar do Rio de Janeiro, Mário Sergio Duarte, entregou uma carta ao secretário de Segurança Pública com a sua exoneração mostrou até que ponto estão corroídas as forças policiais no Rio e porque não, no restante do Brasil.
Uma degradação perigosa que ganhou novo destaque na mídia com o assassinato da juíza Patrícia Acioli, morta com 21 tiros de pistola no dia 11 de agosto. Com essa notícia, a grande imprensa parece que voltou a sua carga investigativa para o grave problema da corrupção policial. Um problema que tem início nos baixos salários pagos e no despreparo de grande parte das forças policiais. Uma realidade que termina nas chamadas milícias que infestam o Rio de Janeiro e na relação promiscua entre policiais e políticos.
Até quando os nossos governantes irão fechar os olhos para essa realidade que está ferindo de morte uma das instituições mais importantes de qualquer Nação? Até quando os administradores desse Brasil irão empurrar com a barriga esse monstro que poderá engolir a todos nós muito em breve? Um monstro que já engoliu as favelas e periferias e que coloca as suas patas sujas agora nos recintos da classe média.
No Rio de Janeiro, um dos estados mais ricos do Brasil, o piso salarial de um policial militar é de R$ 950. Como um homem casado e com filhos consegue se manter com essa quantia irrisória? Como poderá arriscar a sua vida todos os dias e ficar feliz com essa beleza de salário?
O canto da sereia da corrupção já puxou para o seu lado muita gente boa, muitos homens e mulheres que poderiam estar servindo a sociedade de outra maneira, mas que hoje servem nas fileiras da bandidagem.
E não pensem os nobres leitores que essa espiral de corrupção e brutalidades começa da noite para o dia ou que todos os homens de farda azul que penderam para o lado sujo fizeram isso de caso pensado. Muitos somente se deram conta que estavam nessa trincheira quando sua convivência, em suas próprias casas, já era insuportável.
A omissão total do poder público com os policiais brasileiros é vergonhosa. Deixar sem orientações e vigilância correta homens mal preparados, mal pagos e sem as condições necessárias para enfrentar a criminalidade é algo que beira o suicídio. E não o suicídio desses homens de farda, mas de toda a sociedade.
No filme Tropa de Elite 2, já no seu final, há uma cena em que o coronel Nascimento, interpretado pelo ator Wagner Moura, diz para os deputados estaduais cariocas e toda uma platéia que o policial não puxa o gatilho sozinho. Isso é uma verdade. E uma verdade que parece não afetar os burocratas do Governo.
Talvez para esses poderosos homens e mulheres, a violência é algo que não baterá nos seus carros de luxo, nos seus nobres restaurantes ou nas suas belas casas. Uma perigosa ignorância que um dia cobrará a sua conta.
Uma pena que essa conta apareça primeiro nos endereços menos elegantes do País. Nas ruas e becos dos desassistidos.
Até quando?

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