quinta-feira, 28 de junho de 2012

O pacifista do tráfico

Paulo Correia
Jornalista
paulo.correia@r7.com

No começo de junho, desembarcou nas livrarias de todo o Brasil o livro Tudo ou Nada, do antropólogo e ex-secretário nacional de Segurança Pública, Luiz Eduardo Soares. O calhamaço, de mais de 350 páginas, é a história de um jovem economista, que durante a década de 1970 ganhou muito dinheiro, e que nos anos seguintes, por vários motivos, resolveu abandonar o mercado financeiro e curtir os seus dias a bordo de um veleiro. Navegando pelos mais diferentes lugares, conhecendo pessoas e aproveitando ao máximo a filosofia hippie.
Tudo ou Nada é a trajetória de Ronald Soares, no livro transformado no personagem Lukas Mello. Um homem que, como muitos de sua época, caiu com todo corpo no movimento paz e amor e nas eternas viagens com maconha, haxixe e LSD. E como poucos, aproveitou todo o prazer que o dinheiro poderia comprar. La dolce vita nos mares do Caribe e nos passeios com belas mulheres. Anos de brilho e alegria. Tempos de ingenuidade.      
Experiências que logo mais o levariam para outras viagens e drogas. Para o mundo da cocaína e da heroína. Viagens que o transformariam em um viciado completo. Anos de pouca grana e tempestades familiares.  Tempos que transformaram o antigo pacifista em um louco.
Nas páginas, a cronologia que levará esse homem a se transformar em um associado do famigerado cartel de Cali, da Colômbia, e enfrentar os seus piores dias preso em celas da Inglaterra e nas masmorras do Brasil. Tudo isso, por ser preso em fevereiro de 1999, em Londres, intermediando uma transação de duas toneladas de cocaína.
Nas páginas, a sensibilidade de um escritor disposto a entender um personagem real cheio de confusões internas. Um homem em constante mudança.  “Ele já não buscava a variedade e a intensidade das experiências, fossem elas alegres ou penosas. Esse talvez tenha sido o seu ideal quando trocou a riqueza pelas viagens marítimas, aos vinte e poucos anos. Mas certamente não estava mais em pauta quando responsabilizou-se pelo ato que decidiu o sentido do seu futuro, isto é, quando optou por seguir a linha da institucionalidade econômica vigente, a mais tradicional, conservadora e previsível. O alvo do ato fazia-o parte do jogo jogado, ainda que fraudando as regras”, como escreve Luiz Eduardo no final da obra.
Tudo ou Nada. Um livro que merece ser lido!

Nenhum comentário:

Postar um comentário