segunda-feira, 18 de junho de 2012

A gente já não fala de amor.

Augusto Leal
Engenheiro

               Gosto das escritas nesta página de Dalton Melo, Valério Mesquita, Anísio Augusto, Jahyr Navarro, Armando Negreiros e outros que escrevem sobre a vida, sobre o passado, histórias do nosso povo, sobre os amigos, alguns já falecidos. Amores perdidos, amores achados, ”causos,” coisas gostosas que mexem com os nossos sentimentos, a gente se sente bem quando lê.
Hoje as leituras dos jornais e revistas são em sua maioria sobre corrupção, politicagem sem escrúpulos, crimes de morte e outros tipos de violência, tornando para mim uma leitura desinteressante. O pior que as pessoas que fazem parte deste noticiário em sua maioria, são pessoas que tiveram condições de estudar e até fazer curso superior, de ser uma pessoa do bem.
A gente já não fala mais de amor, acho que o amor é a primeira condição para a felicidade. Passou o tempo do romantismo, das serenatas pelas madrugadas, de levar flores para uma dama, do namoro sério e carinhoso, do telefonema amigo, da espera ansiosa por uma carta, do andar de mãos dadas pelas calçadas pelos namorados, de um casamento duradouro.
Estamos na era do ter, quanto mais temos mais queremos. A nossa sociedade vive hoje uma luta frenética em buscar do “ter mais”. Lembro-me que quando me casei meu sonho era ter: uma mulher que fosse só minha, uma família, uma casa com um bonito jardim, um carro mesmo que fosse um modesto fusca, um gordini ou um DKW. 
Hoje é diferente, o homem imbuído pela carreira pelo ter, se preocupa em chegar pelos lugares mostrando seu potente carrão, mesmo que more em um minúsculo apartamento de cinquenta metros quadrados. Para ele o mais importante é desfilar pelas ruas com seu possante como fosse o mais poderoso. A troca de parceiros ou casamentos desfeitos passou a ser fato rotineiro, não se casa mais por amor e sim por sucesso, quando este não vem o casamento é desfeito.
O homem perdeu a vergonha, e os poucos homens de bem, a sua capacidade de se indignar. Estamos vendo hoje políticos corruptos tomando conta do poder, não é só em Brasília não, aqui, se não tem corrupção, tem os desmandos administrativos sem nenhuma reação conjunta da nossa sociedade. Perdemos o amor próprio, aceitamos tudo calado. Absurdo, gestantes e crianças recém-nascidas morrendo em portas de hospitais sem assistência medica, e os mais aquinhoados não protestam, não dão apoio moral, apenas um ou outro protesta. Vejo nas casas ou templos religiosos os pregadores  que dizem – Amai ao próximo como a se mesmo. Será que fazemos isto? Ou só estamos ali querendo justificar a Deus a nossa presença. Quantos pratos de comida repartimos por dia? Quantas roupas e remédios doamos? Não, não temos amor ao próximo e quiçá nem a nós mesmos.
Sei não, mas estou desiludido com muitas coisas, e aqui penso nas palavras do cantor Cazuza. “Eu sou poeta e não aprendi a amar.” Não sou poeta, gostaria de ter sido, mas será que aprendi a amar?  Sempre digo que meu coração é como Rexona, “Sempre cabe mais um”, mas isto é o suficiente? Talvez tenha resposta nas palavras do Padre Zezinho “O amor é um bem maior, difícil de encontrar é joia de valor que a vida faz mudar”.
Acho que vou ser um eterno caçador dessa joia, e se alguém encontrar o amor verdadeiro, o amor infinito, me avise, serei eternamente grato. 
Em 1967 Gilberto Gil, compôs Lunik 9, ele já sentia a perda da poesia para coisas materiais, para a guerra fria, e termino aqui com parte de seus versos e um alerta. “Poetas, seresteiros, namorados correi. È chegada a hora de escrever e cantar. Talvez as derradeiras noites de luar”.

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