segunda-feira, 18 de junho de 2012

POR QUE CARLINHOS?

Públio José – jornalista
(publiojose@gmail.com)

                        O brasileiro tem a mania de tratar palavras e nomes no diminutivo (Paulinho, Zezinho, Castelinho, Prainha, Rocinha...) ou no aumentativo (Ricardão, Rubão, Machadão, Gonzagão, jogão...). É uma demonstração de que o contexto que envolve aquele nome, no aumentativo ou no diminutivo, entrou para o terreno da intimidade, da afetividade, da rotina. Muitas vezes, o “inho” ou o “ão” carregam um pouco de gozação, de tom depreciativo, não deixando, porém, o caso em si, de fazer parte daquela fração de vida da população ligada a hábitos já debitados à rotina que o dia a dia estabelece – chova ou faça sol. Nesse sentido, nos últimos tempos, o brasileiro vem sendo bombardeado por uma chuva de denúncias envolvendo o nome do Senhor Carlos Augusto Ramos – mais conhecido por Carlinhos Cachoeira – e vários partidos políticos, personalidades, instituições e empresas dos mais diversos portes.
                        Nisso tudo, independente da dimensão das denúncias, causa espanto o escorrego que o nome “Carlos Augusto Ramos” deu para transpor-se ao terreno do diminutivo. Hoje, o gajo é conhecido nacionalmente por “Carlinhos”. O pós-nome “Cachoeira” é outro mistério, uma vez que, das suas atividades, nada se assemelha ao significado do termo, a não ser o volume de suas práticas ilegais. Mas, por enquanto, atentemos para o paradoxo do diminutivo “Carlinhos”. A realidade é que, diante do seu porte físico (o tal não é propriamente um homem pequeno), e em confronto com suas inúmeras atividades, o mais correto seria nominá-lo de “Carlão”! Pois, se há uma figura que mereça ultrapassar o limite que separa seu nome da grafia e da verbalização normal para o sonoro terreno do aumentativo, este é o Senhor Carlos Augusto Ramos. Ora, o homem é graúdo em tudo! Então, por que o diminutivo?
                        Por acaso, seria resultado de gestos de carinho de sua família desde os tempos de fraldas? Ou afago de companheiras do campo sentimental aconchegadas sob o seu vasto manto financeiro? Quem sabe, o nome venha da parceria benfazeja com amigos que o taxaram assim como gratidão pelos grandes resultados amealhados? Mistério... Cá com meus botões, eu fico a observar o contraste entre o porte dele como marginal – como homem de negócios que rompeu a fronteira da legalidade – e o nome levado ao diminutivo. E a razão do meu espanto é muito simples: como uma figura assim – que enreda em escândalos de toda ordem os mais altos escalões da administração pública; que envolve, numa tenebrosa cadeia de interesses inconfessáveis, pessoas importantes dos três poderes da República – pode ser chamada “Carlinhos”? De onde surgiu isso? Irônico, não? Para não dizer trágico.
                        Aliás, tomando Carlinhos como exemplo, como ficariam os nomes de vários e famosos meliantes da História no diminutivo. Imagine Nero sendo chamado de Nerinho; imagine Átila – o Huno, como Atilazinho; Lampião sendo conhecido por Lampiãozinho; Al Capone sendo Caponinho; PC Farias como PCzinho; Nicolau dos Santos como Nicolauzinho... Isso sem falar em outros bandidos envernizados, tão nocivos quanto, e cujos nomes sabemos de cor e salteado. Pela associação, podemos nos indagar se o Carlinhos é tão pernicioso assim – e a realidade aponta que é. Ou, por outra, como classificar alguém capaz de influenciar na eleição de governadores e parlamentares, na nomeação de desembargadores, de ministros, de planejar ousados golpes no coração do sistema produtivo? Por essas e outras, pelos tentaculares poderes e nefasta influência, um homem assim, convenhamos, é “ão”. Não pode ser “inho”.    

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