quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Entre a cruz e a espada

Moacyr Gomes da Costa
           O forfait das empresas nesse imbróglio da PPP da Arena das Dunas leva a dois raciocínios distintos: ou os supostos Parceiros Privados não encontraram viabilidade no negócio,  pois o execrável  Fundo Garantidor estaria “bichado”  e o Estado, depenado  e desacreditado, não teria como oferecer  qualquer segurança, ou, ao contrario, seria uma boa transação, somente para o Parceiro Privado e seus “protegidos” que ganhariam  dinheiro fácil na construção do elefante branco.          
O engodo está patente na impossibilidade de manutenção por 35 anos do dito paquiderme, sem garantias e sem as receitas necessárias ao retorno financeiro, uma vez que o estado é pobre, seu futebol é deficitário, e seu “Jet” vive de fachada, sabendo-se que aqui, os mais carentes morrem nos corredores dos hospitais públicos e faz-se a demolição criminosa de uma creche somente para mostrar aos ricos parceiros europeus, aparente eficiência executiva e falsa pujança econômica e cultural.
Por tudo isso, no meu entender, essa deserção é mais uma astucia estratégica nesse festival de mentiras, modelo adotado em todo esse nebuloso processo de levar Natal à copa de 2014 a qualquer custo, por meio de abusivo emprego de dispensa de licitação em contratos milionários, indutores de graves ilicitudes, facilitado por   uma lei  dúbia, permissiva de “interpretações graciosas” visando engabelar a  futura governadora, tentando colocá-la entre a cruz e a espada.                                                                                      
Aqui teríamos as alternativas da nova mandatária -  assumir a  culpa de condenar Natal  a desaparecer do planeta, se não for para a copa, ou, ser sua redentora , tornando a cidade um novo “Jardim do Éden”, embora lhe restasse o ônus histórico de ser algoz de um  patrimônio público, valioso em todos os sentidos, sem ouvir a sociedade civil, e ainda, causando enorme e degradante impacto ambiental, no maior gargalo do sistema viário da cidade.( por essas e outras, se a FIFA fosse séria, a copa estaria ameaçada de não vir para o Brasil).
E se a FIFA tirar Natal da Copa depois das demolições programadas, quem pagará pelo crime? Quem será enterrado junto com os escombros?    Se “legado” de copa fomentasse progresso, o México seria a maior nação do mundo. Em Monterrey está ocorrendo a mesma guerra do Rio.                                                                                                                                                     
É até comovente o apelo dos principais responsáveis por essa pagodeira, “...todos juntos, vamos ,pra frente Brasil, salve a seleção...” (Miguel Gustavo, Copa 1970). O “legado” vem aí, Lula prometeu, arranjará as garantias, derrube-se tudo, que vem muito mais, a guerra do Rio vai passar, São Paulo vai construir um  “arenaço”, dessa vez não haverá um Obdulio Varela para levar nossa copa, a operação Hígia daqui a pouco estará esquecida.
É pena que essa empolgação patriótica não tenha chegado a tempo de salvar nossa dignidade, ou de salvar a barrilha, a  refinaria , a Transnordestina e tantas outras perdas contabilizadas em nossa  história, mas, quem sabe ? Poderemos ter a decantada  mobilidade urbana (???),e finalmente,  desenterrado nosso aeroporto de São Gonçalo.
Todos gostariam de ter a copa aqui, em qualquer arena, desde que a custo compatível com a realidade, sem assalto ao erário ou ao patrimônio do povo, e, sobretudo, sem a abominável corrupção.

Fonte: Roberto Guedes, por e-mail.

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