quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Vamos fugir


Leonardo Sodré*

Dia desses, conversando com um velho poeta, ouvi-o dizer, sorrindo: “aos 62 anos, ganho apenas quatrocentos reais por mês, sem perspectiva de aposentadoria. Mas, está muito bom, porque dá para beber e pegar ônibus. Comer para mim é supérfluo”.
Claro que ele estava sendo irônico diante da sua própria situação financeira, como outro poeta que afirmou beber muito porque a vida era sem graça diante da sua falta de fé, que nunca lhe foi ensinada.
Existem momentos que pensamos em fugir. Todo mundo, diante dos constrangimentos impostos por um mundo cada vez mais competitivo já se imaginou longe do problema que vive, do sofrimento cotidiano. A maioria foge mentalmente, para longe. Muito longe. Outros, menos espertos - justamente os que pensam serem os mais responsáveis -, não conseguem esse alheamento e explodem por dentro. Morrem de infartos do miocárdio ou ficam doentes, lamentando um dia não terem sido menos responsáveis.
Mas, é preciso fugir. E os que pensam que a vida é formada apenas dos segundo, precisam imaginá-la em minutos, horas e, quem sabe, em dias. Alguns fogem de forma virtual e, diante da tela de um computador tornam-se novas pessoas assumindo atitudes inimagináveis, que jamais tomariam no seu dia-a-dia. Uns viram mulheres virtuais, outras viram homens. Os seres virtuais, tão comuns dentro dos intrincados chips cibernéticos.
Alguns fogem de suas perdas e na fuga refugia-se no stress, na busca por sucesso, dinheiro e até poder. Dificilmente percebem que precisam fugir de novo...
E, existem os que nunca precisaram fugir, que já nasceram fugidos. Os que nada lhes atinge e, dentro das piores ou melhores condições, estão sempre em paz, como se não estivessem neste mundo. Dizem que são os santos.

*Jornalista e escritor
 DRT 0985 RN.
(Agosto de 2005)

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