terça-feira, 21 de dezembro de 2010

SER TÉCNICO, SER POLÍTICO OU SER HUMANO?

Públio José – jornalista
(
publiojose@gmail.com)
  
                                          Temos lido e ouvido muitas besteiras atualmente. Uma delas expõe ocupantes de cargos públicos a uma classificação entre técnicos e políticos. Por esse raciocínio, o agente público só pode ser ou uma coisa ou outra. Para mim, além de pobre, esse conceito é um desrespeito à capacidade intelectual dos homens públicos. Fico também perplexo como uma mera análise feita por certos “expert’s” a respeito do desempenho, da aptidão do homem público de administrar segundo um modo duro, retilíneo, científico ou maleável, flexível, termina como obra acabada, irrespondível. Cataloga-se um (o técnico), como insensível, capaz de cometer verdadeiras aberrações contra o social, enquanto o outro é bonachão, tem experiência no contato com o povo ou é irresponsável demais no gastar para atender os reclamos dos mais necessitados.
                                O primeiro administra seguindo uma rígida linha orçamentária, enquanto o segundo tem uma capacidade maior de improvisação, de “jogo de cintura” para cometer deslizes que justifiquem a defesa do social. Isso tudo é uma arrematada tolice. Aliás, no mundo político, tem coisas distorcidas colocadas como retas, assuntos discutíveis postos como incontestáveis – e grandes besteiras aceitas como fato consumado. Essa história de ocupante de cargo público ser técnico ou político é uma delas. Primeiramente, porque conhecemos muitos homens de grande conhecimento técnico se havendo muito bem como políticos, enquanto grandes políticos se transformaram em verdadeiras enciclopédias de conhecimentos técnicos, dignos, portanto, de causar inveja tanto a uns quanto a outros.
                                O interessante é ter de se assistir, diante dessa realidade de coisa imposta, o clamor, o brado, a exigência de boa parcela da mídia, de correligionários, de gente com interesses contrariados, pressionando o administrador público a fazer mudanças urgentes em sua equipe, “pois o ministério (ou o secretariado) está excessivamente técnico ou excessivamente político”. Desconhece-se, assim, a capacidade de adaptação desses profissionais, muitos deles experientes, lastreados, perfeitamente capacitados a exercer cargo público e a se amoldar a circunstâncias adversas. Dessa maneira, pessoas sérias, bem intencionadas são dadas como duronas, insensíveis, enquanto políticos com boa carga de conhecimentos são tidos como irresponsáveis a sangrar o orçamento público.
                                Na verdade existem outros interesses por trás disso tudo. E nesse afã, nessa ânsia de levar vantagem, pessoas são envolvidas e manipuladas para que, através da veiculação de conceitos enganosos, grupos e blocos políticos possam concretizar desejos às vezes escusos, que nem podem ser publicamente expostos. Quando um profissional é catalogado como técnico é porque maquinações outras querem expô-lo publicamente dessa forma, com o intuito de enfraquecê-lo e cuspi-lo do poder. Para que? Para abrir o cofre e promover ações lastreadas por verbas que, com toda certeza, vão beneficiar o bolso de alguém. Da mesma forma, quando se exige um técnico para um cargo, em detrimento de um político, é com o desejo de fechar a torneira que está forrando o bolso de um concorrente.
                                   E qual a saída? Se este conceito é furado, enganoso, qual o verdadeiro? Lembro-me agora que Lula, no início do período de transição, declarou querer ministros e auxiliares que não fossem homens voltados simplesmente para enxergar números. Ressaltou que queria “ministros com sentimentos”. Lula não usou a palavra correta para definir o perfil de seus auxiliares, talvez até por falta de costume. Na verdade, o que ele queria dizer é que no seu governo esperava ter ao seu lado homens humanos, feitos de carne, pessoas dotadas da capacidade de sentir o clamor, o odor, o cheiro, as aspirações das massas. Lembra-se de Figueiredo quando disse que preferia o “cheiro de cavalo ao cheiro de povo?”. Aí está a grande questão. O Brasil – e por extensão todas as unidades da federação – está precisando de homens, sejam técnicos ou políticos, com ideais, visão e anseios emanados do povo.
                                   O que o povo quer? O que o povo deseja? Ponha-se isso na máquina de pesquisa, planejamento e execução do governo que a resposta será diferente. Entretanto, anos, décadas e séculos se passam e os nossos governantes estão sempre na contramão das aspirações do povo. O que se quer, na verdade, são pessoas que não se desgarrem do “modus operandi” das ruas, das fábricas, das casas mais humildes, dos bairros mais pobres, dos rincões mais distantes. Agentes públicos que não percam o contato com o pedido de socorro dos violentados, dos desempregados, dos desdentados, dos que não têm mais a quem apelar. Ficar apontando se este ou aquele é técnico ou político é uma questão de somenos importância, além de deixar o debate num plano muito superficial. Ser humano, ter sentimentos, sofrer, chorar, se contaminar, se contagiar com as dores dos mais humildes – eis a questão. Vamos mudar de conceito?     

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