sábado, 18 de dezembro de 2010

(De Belo Monte à Cidade das Lágrimas)

Trilhos sobre os chãos que hoje são a avenida Getúlio Vargas
Itamar de Souza

Historiando o povoamento primitivo do Monte Petrópolis, antes chamado de "Belo Monte", José Moreira Brandão Castelo Branco identificou oito desbravadores desta área no final do século XIX: José Tatu, Joaquim Manoel Teixeira de Moura (que foi presidente da Intendência de Natal e o criador do terceiro bairro), Teófilo Brandão, Venâncio Santiago, João Olímpio, Olímpio Tavares, Felipe Bezerra e Claudino Cruz. Diz ele: "Foram estas pessoas que desbravaram o morro, abrindo estradas e construindo as primeiras casas as quais, apesar de serem de taipa, resistiram mais de meio século" (BRANCO,1951).
No início do século XX, surgiram outros povoadores no Monte¬Petrópolis. Sobre eles, diz o autor há pouco citado que:
[...] falecendo Juvino Barreto, senhor do extremo norte da colina, justamente da porção que testava com a de Joaquim Manoel, presentemente separadas pela avenida Nilo Peçanha, os seus herdeiros erigiram três edifícios, nos quais a alvenaria de tijolo era empregada pela primeira vez, sendo a do sul do Dr. Alberto Maranhão, a do centro da viúva de Juvino Barreto e a do norte do seu filho Pio Barreto. Estávamos em 1902.
Alberto Maranhão vendeu a sua residência ao capitalista Aureliano Medeiros após alguns anos e o último ao governo estadual que, em 1909, ali instalou o hospital Juvino Barreto, hoje Miguel Couto ... D. Inês Barreto também transferiu a sua propriedade ao Estado para servir de "Casa de Detenção", instalada em 1911. A de Pio Barreto, próximo ao local em que houve a casinhola de José Tatu, transformada num asilo para meninas desvalidas, atualmente ocupado pela Penitenciária, que se alongou até lá (BRANCO, 1951).
Ainda no alvorecer do século XX, Joaquim Teixeira de Moura, dizendo-se "cansado de olhar para o mar", uniu-se a Pedro Velho e, juntos, penetraram no Tirol propriamente dito, construindo aí suas chácaras: a de Pedro Velho chamava-se Solidão e a de Joaquim Manoel, Senegal.
Algum tempo depois, Alberto Maranhão e Joaquim Manoel avançaram mais no rumo sul: Alberto construiu uma casa de campo com piscina e poço tubular que lhe dava valor e comodidade. Atualmente, o Aero Clube ocupa o espaço que antes fora desta casa.
A residência construída por Joaquim Manoel ficava quase em frente à de Alberto Maranhão. Hoje é área integrada ao Quartel do 16°R. I., na avenida Herrnes da Fonseca.
Várias outras chácaras, tais como Pretória (de Manoel Dantas), Betânia (de Pedro Soares), a Quinta dos Cajuais (do ex -governador Antônio José de Melo e Sousa) deixaram seus nomes gravados na memória de Tirol.
Todavia, entre os latifúndios dos ricos, a população pobre que vinha do interior ia ocupando também os tabuleiros da Cidade Nova. Sobre estas habitações, no relatório que o presidente da Intendência, Joaquim Manoel Teixeira de Moura, apresentou ao Conselho Municipal, em 1905, afirmou que "perto de trezentas cazinholas e ranchos foram indenizados e removidos do trajeto das ruas do referido bairro" ... (A República, 13 de janeiro de 1905).
Por causa das arbitrariedades praticadas contra a população pobre da Cidade Nova, o jornalista Elias Souto batizou-o com o nome de "Cidade das Lágrimas".

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