terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Lutando contra o silêncio: refugiados vivem com HIV no norte do Equador

Dez anos atrás uma adolescente chamada Lucilda* deixou sua casa na Colômbia porque tinha medo da fúria de sua mãe após ter ido a uma festa sem sua permissão. Ela deveria ter ficado e enfrentado o castigo.

Em vez disso, a jovem de 25 anos acabou se casando com um homem violento, infiel e tendo que fugir com ele e sua família para a província de Sucumbios, no norte do Equador, para escapar do conflito no sul da Colômbia no departamento de Putumayo. Hoje, Lucilda se esforça para criar duas crianças, seu marido está morto e ela vive com o HIV.

“Ele estava muito doente, mas não queria ir ver um médico. Eu o levei e eles nos disseram o que estava acontecendo e que eu estava infectada”, disse: “Ele sabia que tinha AIDS, mas nunca me disse”, acrescentou ela amargamente.

Lucilda é apenas uma de um pequeno, porém crescente, número de pessoas vivendo com HIV em Sucumbios e na capital, Lago Agrio, onde quase 20% da população de 60 mil são refugiados colombianos.

Ao menos 30 pessoas tiveram HIV ou AIDS desde o final do ano passado, o dobro do número em 2009.

“Este cenário representa apenas a ponta do iceberg no que diz respeito ao número de pessoas que estão infectadas com HIV”, disse Paul Speigel, chefe do Setor de Saúde Pública e HIV do ACNUR em Genebra.

Mas lidar com o problema é difícil em uma sociedade conservadora, machista, onde aqueles que vivem com HIV ou sofrem de AIDS, especialmente as mulheres, enfrentam estigmatização. O ACNUR e seus parceiros estão tentando contornar este preconceito promovendo a conscientização sobre a doença e a importância do sexo seguro.

Um programa especial do ACNUR para o aumento da prevenção da doença, implementado por trabalhadores da saúde nas comunidades, tem ajudado a educar refugiados e comunidades de abrigo em áreas isoladas da selva nas imediações de Lago Agrio. Eles ainda ensinam sobre saúde sexual, planejamento familiar e serviços de saúde em geral.

Enquanto isso, ao menos as crianças de Lucilda não foram infectadas e ela recebe tratamento médico gratuito no Equador. Mas a jovem tem sido tratada como pária pelos parentes de seu marido, que morreu há quatro meses. “Eles têm medo de mim”, ela disse. “Eles não querem sequer me tocar. Dizem que vou espalhar a doença com meu suor”.

Eles são as únicas pessoas, além da equipe médica em Lago Agrio, que sabem a verdade sobre sua saúde. “Eu tenho medo de que se outras pessoas souberem, eu não possa mais trabalhar”, disse Lucilda, que lava roupas para trabalhadores de uma indústria de petróleo para ganhar o suficiente para pagar por acomodações espartanas e alimentar seus filhos. “O dono do quarto onde eu vivo me ofereceu sexo para pagar o aluguel”, declarou.

Xavier Creach, chefe do sub-escritorio do ACNUR em Lago Agrio, disse que o caso aumentou a preocupação sobre as atitudes sociais. “O estigma associado à transmissão sexual de doenças, como o HIV, aumenta os riscos por causa do silêncio da sociedade,” observou.

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