quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Política e humor: chorar pra não rir?


Por Alexandre Inagaki

Nunca havia ouvido falar em Lindolfo Pires. Porém, graças ao Twitter, eu e milhões de usuários que se depararam com seu nome encabeçando os Trending Topics acabamos por descobrir que Lindolfo é candidato a deputado estadual pelo DEM da Paraíba. Mas como o seu nome foi parar na lista dos tópicos mais comentados do Twitter?
Nada que curiosidade mórbida e alguns cliques não respondam: o staff da campanha de Lindolfo Pires pegou "Beat It", hit de 1982 de Michael Jackson, e o transformou em um dos mais singelos jingles políticos destas eleições. Não foi a mais original das ideias; como bem lembrou Bárbara Lopes no Twitter, uma versão tupinambá de Michael Jackson, intitulada "Pires" (vide este vídeo), já foi hit carnavalesco em Recife. Ainda assim, nada que fosse capaz de ofuscar o impacto da heresia que os marqueteiros de Lindolfo fizeram com "Beat It".

Nestas eleições bizarras em que comediantes, a fim de seguir as regras estabelecidas pelas emendas da Lei nº 9.504/1997, estão sendo impedidos de "ridicularizar" ou "degradar" a imagem de políticos, não há no entanto nada que impeça a livre circulação de todo o humor, seja ele involuntário ou não, produzido pelos próprios candidatos. O exemplo mais pitoresco de todos é protagonizado por Francisco Everardo Oliveira Silva, político filiado ao Partido da República (resultado da fusão do PL com o PRONA), e candidato a deputado federal pelo estado de São Paulo. Você provavelmente só conhece Francisco Everardo através de sua alcunha artística: Tiririca.

Tiririca não procura esconder que sua campanha é focada em sua imagem, hmm, artística. Vide as declarações que deu em sua primeira aparição no horário político eleitoral na TV: "O que é que faz um deputado federal? Na realidade eu não sei. Mas vote em mim que eu te conto. Vote no Tiririca, pior do que tá não fica!". De minha parte, discordo solenemente deste slogan: há sempre como cavar um pouco mais no fundo de um poço. Se bem que, creiam-me, é até possível encontrar humoristas que afirmam levar política a sério. Por exemplo? Ivann Gomes, o Batoré, que em 2008 foi eleito vereador pela cidade de Mauá (SP), e que neste ano é candidato a deputado federal pelo PP.

Não é preciso fazer buscas complexas no YouTube para se deparar com o que Mauricio Stycer descreveu como "piada eleitoral gratuita". Vide o ex-campeão mundial de boxe Acelino "Popó" Freitas, candidato a deputado federal pelo PRB da Bahia, que seguiu o exemplo de Lindolfo Pires e apresenta como jingle de campanha outra singela cover de um sucesso internacional. No caso, a vítima foi o tema musical do filme "Rocky, o Lutador".

O que Freddie Mercury acharia do jingle de Antônio Luís, candidato a deputado federal pelo Partido Progressista de Santa Catarina, que encampou uma versão sui generis de "I Want to Break Free", hit de 1984 do grupo Queen?

Pelo jeito, "I Want to Break Free" nasceu com vocação para virar jingle político, uma vez que Claudir Maciel, candidato a deputado estadual pelo PPS-SC, também tomou emprestado o sucesso do Queen como trilha sonora de sua campanha. Mas, em meio à profusão de covers internacionais, há quem tenha optado por outras alternativas para embalar as trilhas sonoras de seus palanques. Vide Júlio César Martins, candidato a deputado federal pelo PMN de Minas Gerais, que contratou o grupo Copacabana Beat (que, em tempos de vacas mais gordas, emplacou sucessos como "Mel da Sua Boca") para gravar o jingle de sua campanha.

Não custa nada lembrar: há excelentes fontes de informação para quem quiser realmente levar a sério estas eleições e usar a internet para escolher criteriosamente seus candidatos. Sites como Voto Consciente, Vote na Web, Cidade Democrática e Transparência Brasil disponibilizam dados e informações preciosas para quem procura por candidatos capazes de oferecer mais do que risadas em troca do seu voto.

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